O espectro da contrainformação

Imagem: Pavel Danilyuk
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por ANSELMO PESSOA NETO*

Considerações a favor das vacinas e da quebra das patentes

Aviso preambular: sou vacinado contra o SARS-CoV-2, duas doses da AstraZeneca, uma de reforço da Pfizer. Tenho a cartela vacinal completa, os meus filhos receberam todas as vacinas prescritas ao longo da vida, em suma, sou um pró-vax!

O debate público está tão desmilinguido, que o esclarecimento acima se faz necessário.

Bom, creio que vocês já imaginaram que vou entrar em terreno pantanoso. Vou mesmo.

Estamos iniciando o terceiro ano da pandemia, todos os cenários já foram pintados e repintados, os prognósticos foram anunciados, as apostas e as credibilidades foram colocadas na mesa. As torcidas se formaram: de um lado, os do bem; do outro, os do mal. Como em qualquer partida importante em que o que conta é a emoção, os lados se engalfinham.  É a emoção que está em jogo, é a paixão que está em campo.

E é o que vemos em relação à Covid, no mundo e no Brasil. Como o esporte nacional é o futebol, a nossa metáfora é o futebol.  E no futebol existem torcidas e torcidas. Na verdade, para um tipo de torcida o que menos importa é o futebol, o campo, o jogo. Estão vidrados é na arquibancada,  na mesa do lado, na torcida adversária, na escaramuça.

E a nossa metáfora terminaria aí. Se vivêssemos em um mundo minimamente sadio, uma doença como a Covid que parou, ou quase parou o mundo, que desestabilizou países e pessoas não poderia ser comparada com qualquer esporte e suas torcidas. Doença não pede partidarização, ideologização, claques. Doença pede tratamento, pede cura.

Questões que a turma dos que acreditam que jogam no time do bem não querem discutir: a vacina chegou e não resolveu, a pandemia continua. Para quem apostou todas as fichas nas primeiras e quaisquer vacinas que foram surgindo, ficou difícil refazer o discurso. Então a saída é dobrar a aposta: vamos para a terceira dose, mas agora já de forma mais precavida: não se garante nada. Terceira dose e todos os cuidados de antes de qualquer dose, essa a ordem unida da turma do bem. À imunidade de rebanho que o psicopata que nos governa pretendia que se chegasse com o morticínio, se chegaria com 70% dos vacinados. No Brasil, não chegamos ainda aos 70% dos vacinados com a segunda dose, mas em países que chegaram mesmo à 90% com a segunda dose, a doença está de volta e com ela o pânico. Como os dados são mutantes, confira aqui.

E na briga de torcida, o jogo está sendo jogado, propositalmente,  para que ninguém, pelo menos de público grite: siga o dinheiro! É como quando estamos com um parente no hospital privado: a família, constrangida, não quer falar de dinheiro, seria sinal de falta de compaixão. E alguns ambientes hospitalares sabem muito bem criar esse constrangimento, nós sabemos, eles sabem, mas quase ninguém grita. O mantra é: morrendo ou não, ele vai pagar aqui na terra (aqui no hospital). O salto que acabo de dar no meu raciocínio é o mesmo que quando a barafunda se instala e se quer compreender o que está em jogo e ninguém tem a resposta, se grita: quem está levando?

Sabendo para onde está indo o dinheiro, e os honestos consigo mesmo sabem, a situação pandêmica está controlada? Não, claro que não. Mas pelo menos o campo fica limpo para se jogar de verdade. O destino da humanidade está nas mãos de uma indústria que nunca, nunca, foi filantrópica, e isto está sendo ocultado propositalmente. Os do bem não querem discutir isso, como se isso fosse uma distração que pode atrapalhar a partida contra a pandemia, mas não.

No atual estágio de desenvolvimento do SARS-CoV-2, somente pode vencer um esforço de guerra, com exércitos nacionais – o que é diferente de exércitos mercenários. Talvez não fosse preciso dizer, mas com a contrainformação propositalmente organizada desorganizando a praça, vamos lá: são interesses privados, contratados, sim, da mesma forma que são contratados os exércitos mercenários – sob o escrutínio das bolsas de valores – os combatentes em nome das nações.

Aprendi com os estudiosos do tema que cada tipo de vacina é produzida em uma plataforma própria. O Brasil e a União Europeia investiram na tecnologia e na plataforma de uma vacina que resistiu pouco e que nunca foi aprovada no Estados Unidos: a da AstraZeneca (por que nunca foi aprovada nos Estados Unidos? Ninguém sabe e poucos se fazem a pergunta). O estado de São Paulo investiu em uma tecnologia e em uma plataforma que, essa sim, foi praticamente desativada e nem os seus próprios “donos” a defendem: a da CoronaVac. Reina soberana no mundo ocidental quase que só uma única vacina: a da Pfizer. O departamento de marketing da Pfizer é de uma eficiência inigualável, isto já está provado! Neste terceiro ano de pandemia, vamos jogar como no primeiro e no segundo? Em time que está perdendo não se mexe? O que queremos é o marketing ou uma ou várias vacinas válidas?

O meu bramido: a ciência, os homens e mulheres de boa vontade da ciência, precisam se reunir, trocar ideias, trocar farpas, organizar o discurso e, principalmente, organizar a conhecimento: o que já sabemos e o que ainda não sabemos sobre o SARS-CoV-2?

A humanidade em risco, em muitos países trancafiada, e não se discute patentes? Há algo mais do bem do que vacina para todos? E de novo, talvez não fosse preciso dizer, mas, como não se sabe, vai lá, agora com outras palavras: as vacinas são pagas! No Brasil, provavelmente com o superávit da balança de pagamento que o agronegócio propicia ao país. E se não houvesse esse dinheiro, hein?

E não falei da torcida do mal. E precisaria?

Aviso terminal: não é só o departamento de marketing da Pfizer que é absolutamente eficiente. Um outro departamento das BIG PHARMAs é eficientíssimo, confira aqui.

No mundo da contrainformação, melhor reafirmar: sou a favor das vacinas e da quebra das patentes!

*Anselmo Pessoa Neto é professor de literatura italiana na UFG. Autor, entre outros livros, de Italo Calvino: as passagens obrigatórias (UFG).

 

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • A faca no pescoçopexels-minan1398-694740 19/12/2024 Por MARILENA DE SOUZA CHAUI; LUÍS CÉSAR OLIVA & HOMERO SANTIAGO: Reflexões sobre o novo modelo de pós-graduação das universidades públicas paulistas.
  • Quem critica o governo ajuda o fascismo?elenira_vilela 18/12/2024 Por ELENIRA VILELA: Há uma esquerda que gosta de se autoproclamar revolucionária e radical, mas que é apenas sectária e coloca sua auto construção como projeto estratégico
  • A chantagem do andar de cimaandar de cima 20/12/2024 Por LEDA PAULANI: Campos Neto cumpriu com bravura covarde sua missão pusilânime de iniciar o movimento de reversão das expectativas positivas que se desenhavam para o cenário econômico sob o governo Lula
  • O pobre de direita e a miséria da sociologiadireita 20/12/2024 Por RENATO NUCCI JR. & LEONARDO SACRAMENTO: O termo pobre de direita é um meio de segmentos da esquerda se livrar da responsabilidade que têm pela situação política e social que nos encontramos
  • A era de crise psíquica fabricadamãop 15/12/2024 Por VLADIMIR SAFATLE: Quanto maior a extensão da possibilidade de diagnósticos clínicos, menor a chance de mobilizar o sofrimento psíquico como fundamento para a revolta social
  • Nota sobre o ataque especulativoJoão Carlos Brum Torres 20/12/2024 Por JOÃO CARLOS BRUM TORRES: A disparada do dólar é um ataque especulativo do mais poderoso dos atores políticos do Brasil, o partido do mercado, cujo objetivo é impedir que o atual governo venha a haurir qualquer reconhecimento pelo excelente momento da economia
  • Em defesa da família tentacularMaria_Rita_Kehl 15/12/2024 Por MARIA RITA KEHL: A família desprivatizou-se a partir da segunda metade do século XX e o núcleo central da família contemporânea foi implodido, atravessado pelo contato íntimo com adultos, adolescentes e crianças vindas de outras famílias
  • 14 de dezembro de 2024Tarso Genro 16/12/2024 Por TARSO GENRO: A prisão do general é o ápice da mudança de qualidade da crise de alta intensidade, que vem desde a inquisição medievalista encetada pela república de Curitiba
  • Não existe alternativa?lâmpadas 23/06/2023 Por PEDRO PAULO ZAHLUTH BASTOS: Austeridade, política e ideologia do novo arcabouço fiscal
  • O caminho para Damascoárabe 15/12/2024 Por TARIQ ALI: O que estamos testemunhando na Síria hoje é uma grande derrota, um mini 1967 para o mundo árabe

Veja todos artigos de

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES

Assine nossa newsletter!
Receba um resumo dos artigos

direto em seu email!