Os eternos coveiros do PT

Imagem: João Nitsche
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por FLÁVIO AGUIAR*

Por sobre a malta de seus eternos coveiros, o PT continua sendo o maior partido de esquerda do Brasil, um dos maiores e melhores da América Latina e do mundo

Esclareço desde logo: em São Paulo, apoiei Boulos e Erundina desde a primeira hora. Respeito as demais opções à esquerda. Esclareço: na paulistânia, Boulos, além de ser um super-quadro, traz o vento favorável da renovação geracional, e injeta racionalidade no PSOL, para longe do primarismo ressentido anti-petista  que caracterizou várias lideranças do partido, do norte ao sul, de leste a oeste. E Erundina, do alto de seus oitenta anos, se renova, junto a Boulos.

Dito isto, sublinho: por sobre a malta de seus eternos coveiros, o PT continua sendo o maior partido de esquerda do Brasil, um dos maiores e melhores da América Latina e do mundo. Que se defenda a frente anti-bolsonaro que se queira: ampla, popular, de esquerda, de centro-esquerda, etc. Qualquer delas, sem o PT, sem o Lula, não vai prosperar.

Ao contrário do que alardeiam seus coveiros, o PT saiu-se galhardamente nestas eleições municipais. Nunca um partido e suas lideranças foram tão enxovalhadas e desacreditadas pela mídia mainstream do Brasil por tão longo tempo e com argumentos tão falsos e contundentes, tão mais contundentes quanto mais falsos, porque esta equação exige uma operação interna de quem nela embarca de mãos e pés juntos, qual seja, aquilo que em inglês se chama “suspension of disbelief”, a “suspensão da descrença”. No campo político isto significa o abandono de qualquer espírito crítico e independente, para aderir à grosseria das falsificações mais grosseiras. Não que o PT seja um convento onde entram apenas monjas e monges “sans taches et sans reproche”, longe disto. Mas a mídia mainstream e os inimigos do povo quiseram fazer dele o bode expiatório de todos os males que afligem o campo político brasileiro e mundial. Jogaram em cima do PT a pecha de ser o partido mais corrupto da nossa história, quase o fundador da corrupção; de ter jogado zilhões de reais fora para ajudar regimes supostamente ditatoriais e comunistas. Na verdade, nunca a corrupção foi tão investigada quanto sob os governos do PT; e foi sob estes governos que o Brasil juntou o lastro indispensável de reservas expressivas em moedas internacionais, para ser um receptor seguro de investimentos em escala mundial, já que a nossa burguesia prefere cada vez mais investir suas polpudas reservas em paraísos fiscais de reputação mais que suspeita, além dos supermercados de Miami.  E algumas vezes houve a ajuda de expressivas lideranças de esquerda: não me esqueço das cenas televisivas da líder psolista, com sua camisetinha t-shirt, ombro a ombro com Netinho (apelido mais carinhoso de ACM Neto), investigando as supostas mazelas do suposto mensalão, cuja existência nunca foi provada e, parodiando o Ulisses de Fernando Pessoa, “por não ter vindo, veio e ficou”. Mais ainda: pela esquerda, acusou-se o PT e Lula de tudo. Desde terem “desarmado as massas”, que nesta visada estavam sempre prontas para invadir o Palácio do Planalto como se fosse o de Inverno em São Petersburgo em 1917, até terem desavergonhadamente favorecido o capital através do incentivo ao consumismo por parte dos pobres e miseráveis.

Enfim, vou encurtar a história: nesta nossa, o PT veio para ficar. Ele faz parte inalienável da pluralidade das nossas esquerdas. Já falei de Boulos e do PSOL; para não dizer que não falei de flores, parodiando o Vandré, vamos de Manuela e PCdoB/PT em Porto Alegre. E em tempo: os coveiros do PT ganharam agora um valioso aliado, o Sr. Barack Obama, através de suas memórias; muito coerente, pois, afinal, a Lava Jato foi gestada em sua terra durante seu governo.

*Flávio Aguiar é jornalista, escritor e professor aposentado de literatura brasileira na USP. Autor, entre outros livros, de Crônicas do mundo ao revés (Boitempo).

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • Sobre a ignorância artificialEugenio Bucci 15/06/2024 Por EUGÊNIO BUCCI: Hoje, a ignorância não é uma casa inabitada, desprovida de ideias, mas uma edificação repleta de baboseiras desarticuladas, uma gosma de densidade pesada que ocupa todos os espaços
  • Introdução a “O capital” de Karl Marxcultura vermelho triangular 02/06/2024 Por ELEUTÉRIO F. S. PRADO: Comentário sobre o livro de Michael Heinrich
  • Franz Kafka, espírito libertárioFranz Kafka, espírito libertário 13/06/2024 Por MICHAEL LÖWY: Notas por ocasião do centenário da morte do escritor tcheco
  • Impasses e saídas para o momento políticojosé dirceu 12/06/2024 Por JOSÉ DIRCEU: O programa de desenvolvimento tem de ser a base de um compromisso político da frente democrática
  • Registro sindicalMETRÔ 11/06/2024 Por LAWRENCE ESTIVALET DE MELLO & RENATA QUEIROZ DUTRA: O Ministério do Trabalho decidiu conceder registro sindical à Proifes. No entanto, registro sindical não é o mesmo que representação sindical
  • A greve das Universidades e Institutos federaisvidros corredor 01/06/2024 Por ROBERTO LEHER: O governo se desconecta de sua base social efetiva ao afastar do tabuleiro político os que lutaram contra Jair Bolsonaro
  • Confissões de uma senhora católicaMarilia Pacheco Fiorillo 11/06/2024 Por MARILIA PACHECO FIORILLO: O reacionarismo congênito não é apanágio apenas dos evangélicos
  • Fortalecer o PROIFESsala de aula 54mf 15/06/2024 Por GIL VICENTE REIS DE FIGUEIREDO: A tentativa de cancelar o PROIFES e, ao mesmo tempo, fechar os olhos para os erros da direção da ANDES é um desserviço à construção de um novo cenário de representação
  • O STF, a Inteligência Artificial e a Justiça do Trabalhosouto-maior_edited 07/06/2024 Por JORGE LUIZ SOUTO MAIOR: A concretização da substituição do ser humano pela IA pressupõe que esta já foi treinada para atuar na forma desejada pela classe dominante
  • A sociedade da história mortasala de aula parecida com a da história usp 16/06/2024 Por ANTONIO SIMPLICIO DE ALMEIDA NETO: A disciplina de história foi inserida numa área genérica chamada de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e, por fim, desapareceu no ralo curricular

AUTORES

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES