Apesar de muito novo e de estar apenas no início de sua trajetória como artista, Pedro Moraleida Bernardes deixou, ao falecer precocemente, em 1999, aos 22 anos de idade, ainda estudante da Escola de Belas Artes da UFMG, um numeroso e diversificado acervo de obras de arte, composto por cerca de 450 pinturas, (usando técnicas mistas, óleo, acrílica, guache, grafite, lápis de cor, colagens, entre outros, sobre variados suportes como papel, madeira, tecido, tela, metal, etc.); 1450 desenhos (inclusive, quadrinhos e cartoons e até sobre radiografias); mais de quatro centenas e meia de textos (entre poesias, manifestos, contos, parábolas, reflexões sobre arte e de natureza existenciais, etc.) e cerca de 120 experimentações sonoras.
Acervo que impressiona tanto pelo volume e diversidade de formas de expressão, de técnicas e suportes utilizados, quanto pela riqueza de suas características, pela qualidade de conteúdo e de formas, pela atualidade, originalidade, consistência e coerência. É um acervo singular e genuíno, fruto de um trabalho ousado, inovador, engajado nas temáticas humanas e sociais de nosso tempo, polêmico, coerente e na contramão das tendências dominantes nas artes plásticas de Minas e do Brasil à época, pelas quais a “pintura havia morrido” e a “arte”, para se preservar como tal, deveria ser “indiferente” ou “neutra” em relação aos dilemas e conflitos humanos e sociais, com conteúdo e forma, em certo sentido, premonitórios e precursores de tendências que só viriam ganhar força com o passar do tempo.
O próprio artista expressou, em vários textos pessoais, sua visão particular acerca da arte e do trabalho dos artistas, como na apresentação que fez dos trabalhos apresentados na exposição “BH Daqui a um Século”, em 1997, comemorativa do centenário de Belo Horizonte, onde diz: “… procuro nestes trabalhos, usando imagens e personagens bíblicos, da mitologia grega, passar uma impressão agressiva e mórbida, utilizando também símbolos como pessoas desmembradas, pessoas urinando ou defecando e animais grotescos (lagartos, insetos, etc.). Eu busco passar esse tipo de impressão para falar das características de nossa época, especialmente, das pessoas da minha faixa etária. Tento falar especialmente de certas características que me desagradam e me irritam profundamente na minha geração, como um conservadorismo disfarçado e um hedonismo que nada mais é do que um refúgio dos próprios problemas. Isto é tudo que quero dizer, o resto fica por conta de quem for ver.”