Poder e dinheiro

Imagem: Clayton
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por ANDREI MARTYANOV*

Porque Emmanuel Macron se autoconvidou para a cúpula dos BRICS em Pretoria

É um fato fora de questão que Emmanuel Macron é um garoto de recados da família Rothschild. Até mesmo a Wikipedia traz a descrição das atividades da família no eixo Londres-Paris: “Ambos os ramos britânico e francês emergiram da Segunda Guerra Mundial com novas gerações da família no comando. Laços históricos de parceria entre os dois ramos foram revitalizados, levando a uma fusão completa em 2003 sob Rothschild & Co. Os Rothschilds criaram os primeiros hedge funds em 1969, e reforçaram a sua posição como líderes mundiais em investment banking. Adicionalmente, a empresa é um banco privado global com mais de 4.000 clientes privados em 90 países. Rothschild & Co provê uma ampla gama de serviços para indivíduos, governos e corporações por todo o mundo”.

Trata-se de um clássico negócio financeiro de movimentação de capitais, na sua maior parte em cash. Como quaisquer outros hedge funds, os fundos dos Rothschilds contam com analistas – omitiremos aqui os atributos dos mesmos – que são encarregados da avaliação de riscos e das análises probabilísticas concebidas para conservar e fazer aumentar o capital.

O pedido de Emmanuel Macron para comparecer ao BRICS não é um ato de espionagem nem busca ser um Cavalo de Tróia, de jeito nenhum, é para negociar nas bordas da cúpula dos BRICS quanto ao destino dos capitais dos Rothschilds. A trajetória do Ocidente já está agora bem delineada, e o avanço da volatilidade e o declínio radical já se encontram em marcha. Essa é uma situação ruim, muito ruim para o capital. O dinheiro ama estabilidade e calmaria.

Evidentemente que a verdade da SMO (N. do T.: Operação Militar Especial da Rússia na Ucrânia) começou a espirrar sobre aqueles analistas, e a família Rothschild e mesmo o observador não sofisticado já podem agora depreender facilmente a magnitude da mudança geopolítica – é algo sem precedentes na história moderna. É também algo metafísico – o dinheiro cash, mesmo volumes enormes dele, não significa absolutamente nada se não estiver baseado em alicerces firmes de poder militar massivo e poder econômico real.

Nós estamos testemunhando não apenas o fim da hegemonia do Ocidente, há uma mudança muito mais profunda em marcha – a morte do capitalismo financeiro e a exposição do dinheiro como meramente uma ferramenta, não uma substância em si. A desdolarização avança a um ritmo vertiginoso. Apenas um exemplo de hoje: “Encontrar alternativas ao dólar norte-americano levará tempo, mas a dominância global do dólar “asfixiou” muitos países, e a África precisa ter a sua própria moeda, disse na quarta-feira ao RT George Sebuela, presidente da Confederação das Empresas Unidas da África (AUBC). Sebuela disse que os países africanos com uma moeda própria farão comércio mais facilmente entre si e mesmo com outros países. “Aquilo que os Estados Unidos fizeram com o dólar realmente asfixiou muitos países de uma forma ou de outra,” ele disse. “Se você não andar na linha, você estará sob pressão porque você terá que usar o dólar,” disse Sebuela. Ele também disse que a questão para a União Africana será “como nós começaremos como um continente que é imenso, e que tem tantas grandes oportunidades, para então termos a nossa própria moeda, que poderá fazer o nosso comércio muito mais fácil, até mesmo com outros países?” Essa é uma discussão que está ocorrendo também dentro do grupo dos BRICS, disse Sebuela.

E esse é apenas um de muitos. Que tal esse outro: “A Rússia pagou dividendos pelos projetos petrolíferos Sakhalin 1 e 2 em yuans chineses, uma alteração na sua prática usual de pagá-los em dólares, graças às sanções do Ocidente sobre a Rússia. A decisão de pagar na moeda chinesa em vez do tradicional dólar norte-americano veio após a Rússia ter sido excluída dos sistemas de pagamentos globais dominados pelo dólar, como consequência de sanções amplas por conta da guerra da Ucrânia”.

Alguém poderia perguntar, como é que se pode fazer isso? Simples – porque se possui a maior força militar do mundo, e uma economia que pode facilmente bancá-la e supri-la, ao mesmo tempo que permite ao país continuar a crescer. Muammar Gaddafi não tinha isso – ele era um líder de uma pequena nação árabe com um bocado de grana, porém com poderes militar e econômico mínimos. Ele buscou uma alternativa ao dólar norte-americano – ele acabou morto. Não é possível fazer isso com a Rússia, porque aqueles que tentam acabam mortos da forma mais violenta.

E aqui está a diferença. A Líbia não podia produzir tanques modernos, enquanto que a Rússia produz mais de 1.200 por ano, todos eles estado-da-arte. Evidentemente que tal fato “chegou” até a família Rothschild e eles tentam desesperadamente encontrar um lugar para aportar as suas imensas fortunas, antes que elas evaporem devido ao colapso da moderna civilização do Ocidente.

Emmanuel Macron não passa de um gerente, nada além disso. Daí, “por favor me convidem para a cúpula do BRICS”. Trata-se também uma tentativa desesperada de se dependurar nas mangas dos paletós de Vladimir Putin e Xi Jinping e tentar ser ouvido por um minuto. As fortunas da família Rothschild querem ser guardadas por S-400 e T-90Ms com SU-57s em vez de Patriots PAC3 e Leopards-2. É só isso, não é nada além disso.

*Andrei Martyanov fez carreira militar na ex-União Soviética. Aposentado, radicou-se nos Estados Unidos. Autor, entre outros livros, de Losing military supremacy: the myopia of american strategic planning.

Tradução: Ruben Bauer Naveira.

Publicado originalmente no blog do autor.


A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Gerson Almeida Ricardo Fabbrini Henry Burnett João Carlos Salles Denilson Cordeiro Luis Felipe Miguel Gabriel Cohn Daniel Costa Airton Paschoa Liszt Vieira Eduardo Borges José Geraldo Couto André Singer Andrés del Río Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Priscila Figueiredo Paulo Martins Carla Teixeira Rodrigo de Faria Paulo Fernandes Silveira Luiz Carlos Bresser-Pereira Gilberto Maringoni Gilberto Lopes Boaventura de Sousa Santos Michel Goulart da Silva Bruno Machado Slavoj Žižek Claudio Katz Fernando Nogueira da Costa Henri Acselrad Everaldo de Oliveira Andrade Berenice Bento Eliziário Andrade Flávio Aguiar José Raimundo Trindade Luiz Marques Michael Löwy Eugênio Bucci Lincoln Secco Antonio Martins Marilia Pacheco Fiorillo Heraldo Campos Francisco de Oliveira Barros Júnior Leonardo Avritzer Luiz Roberto Alves Kátia Gerab Baggio Milton Pinheiro Eleutério F. S. Prado Walnice Nogueira Galvão Igor Felippe Santos Alysson Leandro Mascaro João Sette Whitaker Ferreira Afrânio Catani Renato Dagnino Paulo Nogueira Batista Jr Valerio Arcary Marcos Silva Celso Favaretto Mário Maestri José Costa Júnior Paulo Sérgio Pinheiro Tadeu Valadares Mariarosaria Fabris Chico Alencar Bruno Fabricio Alcebino da Silva Érico Andrade Julian Rodrigues Daniel Afonso da Silva Armando Boito Salem Nasser José Micaelson Lacerda Morais Manchetômetro Thomas Piketty João Lanari Bo Rubens Pinto Lyra Sandra Bitencourt Caio Bugiato Benicio Viero Schmidt Chico Whitaker Francisco Fernandes Ladeira Jorge Luiz Souto Maior Flávio R. Kothe Osvaldo Coggiola Bernardo Ricupero Sergio Amadeu da Silveira Alexandre Aragão de Albuquerque Andrew Korybko Vinício Carrilho Martinez Daniel Brazil Jean Marc Von Der Weid Annateresa Fabris Yuri Martins-Fontes Michael Roberts Luiz Werneck Vianna Jorge Branco Matheus Silveira de Souza Marcus Ianoni Antônio Sales Rios Neto Luiz Eduardo Soares Ricardo Abramovay Marcos Aurélio da Silva Alexandre de Freitas Barbosa Fernão Pessoa Ramos Francisco Pereira de Farias Leonardo Sacramento Ronald Rocha Elias Jabbour Leonardo Boff Jean Pierre Chauvin Ricardo Musse Dennis Oliveira Plínio de Arruda Sampaio Jr. João Adolfo Hansen João Paulo Ayub Fonseca Marcelo Guimarães Lima Luciano Nascimento Tales Ab'Sáber Marcelo Módolo João Feres Júnior Lorenzo Vitral Luiz Bernardo Pericás Marjorie C. Marona Ronaldo Tadeu de Souza Eleonora Albano Dênis de Moraes Vanderlei Tenório André Márcio Neves Soares Fábio Konder Comparato Marilena Chauí Ari Marcelo Solon Paulo Capel Narvai Luiz Renato Martins João Carlos Loebens Samuel Kilsztajn Ricardo Antunes Tarso Genro Leda Maria Paulani Atilio A. Boron Juarez Guimarães José Luís Fiori José Machado Moita Neto Ronald León Núñez Celso Frederico Alexandre de Lima Castro Tranjan Ladislau Dowbor Bento Prado Jr. Antonino Infranca José Dirceu Carlos Tautz Otaviano Helene Vladimir Safatle Luís Fernando Vitagliano Lucas Fiaschetti Estevez Rafael R. Ioris Anselm Jappe Maria Rita Kehl Eugênio Trivinho Manuel Domingos Neto Remy José Fontana Valerio Arcary

NOVAS PUBLICAÇÕES