Wanderley Guilherme dos Santos

Imagem Elyeser Szturm
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por Candido Mendes*

A presença de Wanderley Guilherme dos Santos em nossa vida de espírito tem uma dupla dimensão. Vamos lhe dever o avanço do nosso pensamento crítico da modernidade, de par com o implante das ciências sociais na inserção do desenvolvimento brasileiro. É a dimensão da relevância que o leva à busca do sentido, na melhor dramática prospectiva e na visão de todo o universo do poder. Não é outro o modo inquisitivo do texto Quem dará o golpe no Brasil?

Wanderley participou desse desdobramento dos cânones didáticos do nosso compreender em meados do século passado e no que foi, então, o laboratório do Iseb, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros. Somou-se, nessa docência, a Álvaro Vieira Pinto, como seu assistente, na cadeira de História da Filosofia, na recém-criada faculdade (da mesma capacitação) na Universidade do Brasil. Ao lado do titular, participou do pioneirismo da nossa reflexão epistemológica, pelo que Vieira Pinto nos deu o estudo do contraponto entre a consciência crítica e a consciência ingênua, em nossa saída da dependência colonial.

No desdobrar, a largo prazo, desse empenho saído do marco isebiano, perseguido pela ditadura militar, Wanderley passou à Universidade Candido Mendes, quando se fundou o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), que o teve como seu primeiro diretor. Tentamos manter o que o Iseb propusera, como a dimensão realmente prospectiva do nosso “que fazer”, na exigência do projeto de um Brasil “para si”, de onde arrancou, em termos indiscutivelmente fundadores, o nacionalismo dos anos 1950.

O que marca, sempre, o pensamento de Wanderley é o largo reclamo de Erasmo de Roterdã, ao encontrar, sempre, no nó das tensões sociais, o clamor pelo universal e, na acepção que lhe presta Baudrillard, a efetiva fenomenologia do evento. Demonstram-no os pontos cardeais das suas pesquisas ao longo dessas décadas: competição eleitoral e renovação parlamentar comparada; crise e sequências da organização política; globalização, definições, medidas e evidências; custos do status quo e custos do fracasso de ações coletivas; democracia natural e governabilidade.

Não é outra a escala do discurso de textos como Décadas de espanto e uma apologia democrática ou O ex-leviatã brasileiro. Wanderley assegurou-se, sempre, da absoluta contemporaneidade de sua meditação, nos Estados Unidos, no doutoramento em Stanford e, depois, como professor visitante em Madison e como titular da cadeira Edward Tinker em Stanford. O impacto permanente da sua mensagem nasce de uma heurística, quase na tentação da parábola, somada ao explicar. Nem por outra razão, pode debruçar-se em conceitos como “inércia social”, “fracasso coletivo” ou o “cálculo do conflito”.

E, nesse à vontade com a lógica de situações limite, vai aos paradoxos na leitura da organização sistêmica, dentro do nosso processo histórico, e no enfoque de fenômenos sociais totais, como o do liberalismo e o marco, sempre não redutor, do debate das ideologias, assentadas na plenitude de sua práxis.

Garantindo-se a sabedoria do paradoxo, o pensamento de Wanderley é, mais do que nunca, cobrado pela aceleração dos novos contrapontos contemporâneos trazidos pelo Isis, pela secularização, pelo cansaço institucional ou pelas novas configurações internacionais, medidas pela quebra das globalizações da modernidade em emergência e o reclamo pelas diferenças na identidade coletiva da pós-modernidade.

*Candido Mendes é reitor da Universidade Candido Mendes e membro da Academia Brasileira de Letras.

Referências

Wanderley Guilherme dos Santos. Quem dará o golpe no Brasil?. Coleção Cadernos do Povo, vol. 5. Civilização Brasileira, 1962.

Disponível em https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/diversos/quem.pdf

Wanderley Guilherme dos Santos. Décadas de espanto e uma apologia democrática. Rio de Janeiro, Rocco, 1998 (https://amzn.to/3YXLsEp).

Wanderley Guilherme dos Santos. O ex-leviatã brasileiro. Do voto disperso ao clientelismo concentrado. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2006 (https://amzn.to/3YJzgGZ).

Wanderley Guilherme dos Santos. O cálculo do conflito. Editora UFMG, 2003.”

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Valerio Arcary Luiz Marques Rafael R. Ioris João Lanari Bo Henri Acselrad Igor Felippe Santos Leda Maria Paulani José Raimundo Trindade Ladislau Dowbor Eleutério F. S. Prado Marcelo Módolo Eugênio Bucci Carlos Tautz Ricardo Antunes Ricardo Musse Érico Andrade Walnice Nogueira Galvão Marcos Silva Lorenzo Vitral Juarez Guimarães Berenice Bento José Machado Moita Neto Luis Felipe Miguel Slavoj Žižek André Singer Lincoln Secco Sergio Amadeu da Silveira Gerson Almeida Celso Frederico Marcelo Guimarães Lima Boaventura de Sousa Santos Fernando Nogueira da Costa Atilio A. Boron Benicio Viero Schmidt João Carlos Salles Sandra Bitencourt Afrânio Catani Ronaldo Tadeu de Souza Bruno Fabricio Alcebino da Silva Bento Prado Jr. Vinício Carrilho Martinez Henry Burnett João Sette Whitaker Ferreira Paulo Capel Narvai Daniel Costa Maria Rita Kehl Vladimir Safatle Francisco Fernandes Ladeira Alexandre de Lima Castro Tranjan Samuel Kilsztajn Paulo Nogueira Batista Jr Julian Rodrigues Leonardo Avritzer Remy José Fontana Flávio Aguiar Antonino Infranca Chico Alencar Matheus Silveira de Souza Luiz Eduardo Soares Marjorie C. Marona Priscila Figueiredo Luís Fernando Vitagliano Renato Dagnino Jean Marc Von Der Weid Thomas Piketty Paulo Sérgio Pinheiro Fernão Pessoa Ramos Ronald Rocha Everaldo de Oliveira Andrade Daniel Brazil Ricardo Abramovay Yuri Martins-Fontes Eleonora Albano Dênis de Moraes Jorge Luiz Souto Maior Andrés del Río Ronald León Núñez Celso Favaretto Liszt Vieira João Feres Júnior Jorge Branco Luciano Nascimento Marcus Ianoni Dennis Oliveira Francisco de Oliveira Barros Júnior Rodrigo de Faria Antônio Sales Rios Neto Denilson Cordeiro João Adolfo Hansen Bernardo Ricupero Marilia Pacheco Fiorillo Luiz Renato Martins Elias Jabbour Michael Löwy Manchetômetro Heraldo Campos Alexandre Aragão de Albuquerque Plínio de Arruda Sampaio Jr. Alysson Leandro Mascaro Marcos Aurélio da Silva Mariarosaria Fabris Otaviano Helene Airton Paschoa Michael Roberts Eliziário Andrade Eduardo Borges Paulo Fernandes Silveira Antonio Martins Michel Goulart da Silva Kátia Gerab Baggio Salem Nasser Milton Pinheiro Bruno Machado Mário Maestri André Márcio Neves Soares Fábio Konder Comparato Annateresa Fabris Luiz Carlos Bresser-Pereira José Dirceu Leonardo Boff João Paulo Ayub Fonseca Flávio R. Kothe Osvaldo Coggiola Ricardo Fabbrini Luiz Werneck Vianna Alexandre de Freitas Barbosa Tales Ab'Sáber Luiz Bernardo Pericás Vanderlei Tenório Lucas Fiaschetti Estevez Luiz Roberto Alves Rubens Pinto Lyra Carla Teixeira José Micaelson Lacerda Morais Gilberto Lopes José Costa Júnior Claudio Katz Valerio Arcary Caio Bugiato Francisco Pereira de Farias Paulo Martins Manuel Domingos Neto Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Andrew Korybko Anselm Jappe Tadeu Valadares Gabriel Cohn João Carlos Loebens Armando Boito José Luís Fiori José Geraldo Couto Gilberto Maringoni Leonardo Sacramento Marilena Chauí Chico Whitaker Jean Pierre Chauvin Daniel Afonso da Silva Ari Marcelo Solon Tarso Genro Eugênio Trivinho

NOVAS PUBLICAÇÕES