Por AIRTON PASCHOA*
Oito peças curtas
Novo normal
Não vejo a hora de ver todo mundo de novo dando as mãos e as costas.
Benjaminiana
Tostão, tostãozinho só a desaceleraram, não a frearam — a locomotiva.
A fim de a brecar antes da breca, só ferrando a ferros — o louco motivo.
Motivos não faltam, nem loucos.
Super-realismo
Os jovens que atiram a esmo levam ao pé da letra a provocação surrealista. Têm com metáfora a dificuldade que não encontram com metranca. Formam a quintessência da nova humanidade. Cumprem o desígnio fatal que traz no bojo a velha arcada? Como quer que seja, ou deixe de ser, desce, sobe, trava, destrava a suprarrealidade, se não do sonho, da automática escrita.
Aspirina
O homem inspira e expira.
Entre os respiros aspira.
Deus espirra.
endorfina
sem nadar
sem correr
sem andar
em dor fina
bem estar
aliança
a caminho de passar
ando passando
bem desobrigado
ele não mudou
eu não emudeci
estamos desquites
Reflexo
Deserto, o que se vê.
Problema de vista?
Catarata, o diagnóstico.
Demanda intervenção.
Por fim se mira a miragem.
ó topia
taprobanapra grego
serendibpra árabe
srilankapra nativo
éden pra decaído
paraíso pra deportado
eldorado prarefugiado
américa pra business
novo mundo pra velho
outro mundo pra messiânico (ateu e crente)
possível ou improvável pra muita gente
ah pra esquecido
ceilãopra gajo
sei lá pra engulho
sei não pra engasgo
*Airton Paschoa é escritor, autor, entre outros livros, de Ver Navios (Nankin, 2007).