Planejar o quê e para quem?

Imagem: Mustafa Ezz
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Por ALDO PAVIANI*

Não há “planejador”, pois a atividade de “olhar e otimizar o futuro” é tarefa coletiva e não individual

A característica básica do planejamento urbano e regional é dotar centros urbanos e regiões com os serviços e atividades que gerem ótimas condições de convívio coletivo e bem-estar de uma dada população e/ou suas atividades econômicas e sociais. Aparentemente simples essas ações do planejamento não apenas devem ficar a cargo de governos, mas igualmente aos cidadãos, empresas e ao coletivo urbano. Por isso, não há “planejador”, pois a atividade de “olhar e otimizar o futuro” é tarefa coletiva e não individual, pois, o indivíduo tem limitações, enquanto o “ver o futuro” sempre será melhor de for entregue a uma equipe bem preparada.

A equipe irá ter em mente quais as características o objeto ou circunstância deverá ser planejada: serão circunstâncias próximas ou de um dia, mês ou ano mais a frente? Quão distantes no tempo e no território estarão os objetos últimos a planejar? Ademais, serão coletivos maleáveis aos termos de como se deseja que eles permaneçam ou mudem para estarem em melhores condições no futuro? Ao que parece, não será fácil encontrar uma resposta para essas questões, sobretudo em áreas ou território onde sempre houve o faissez faire ou laissez passer ou em nosso vernáculo deixe fazer ou deixe passar, que são antagônicos ao planejamento, porque se entregam ao improviso, que contrário ao planejamento estatal.

Logicamente, nem tudo deve ser atribuído ao Estado e suas instituições, no conjunto, são os provedores do bem-estar social. Isso também se deve ao fato de que as empresas miram a lucratividade e o Estado não olha o lucro, mas tão somente se empregou os meios necessário para que uma dada população se sinta amparada no que lhe for essencial em termos de saúde, segurança e alívio no que faz no dia a dia.

Um exemplo é o que aconteceu nesses dias com as populações da Síria e da Turquia em termos do desastre sísmico que tolheu tantas vidas adultas, poupando muitas crianças, dizem pelo seu reduzido volume corporal. Mas, a tragédia teve a ajuda internacional, de doadores voluntários e de governos solidários com o abalo que veio das placas tectônicas do chamado “círculo de fogo” ou ring of the fire, em todas as fímbrias litorâneas do Oceano Pacífico. Essas fendas perpassam não apenas territórios orientais, mas podem ser encontradas em outros continentes, da Califórnia da América do Norte, Canadá, Japão, até a Indonésia. Sabedores de possíveis movimentos das placas tectônicas, alguns países reforçam as estruturas de pontes, estradas e edificações, inclusive prédios de escritórios e residenciais. Os abalos, logicamente, não anunciam quando podem ocorrer, mas, sabedores desses imprevisíveis acontecimentos, empresas construtoras e governos tomam medidas de precaução, pois não há planejamento possível.

Quem vive em áreas do cinturão do fogo ao menor movimento subterrâneo se mantém em vigília, mas não podem ter sossego, como formigas ou pássaros, ante os quase imperceptíveis começos dos terremotos, igualmente às erupções vulcânicas. Já tratei, neste espaço, das lavas do Vesúvio que destruíram as cidades de Pompeia e Herculano, próximas a Nápoles. Levou apenas 17 minutos para ceifar toda a população, no ano de 79 d.C. Segundo a mídia informa, é o único vulcão da Europa, agora adormecido, a ter uma erupção em cem anos. Uma tragédia não anunciada e de nenhuma possibilidade de planejamento e de brutal capacidade destrutiva. A Itália fez escavações por anos e, na atualidade, o local do acontecido é objeto de visitação turística. Muitos brasileiros estiveram nesse cenário triste e retornam a parentes e amigos sobre o que viram e ouviram dos narradores que ciceroneiam os visitantes nesse trágico território.

Se as erupções vulcânicas não têm paralelo no Brasil pode ser uma vantagem com também são os tornados (a não ser em Santa Catarina, onde eles já ocorreram) eles já devastaram estados dos Estados Unidos da América – Missouri, Indiana e Illinois – com muitas mortes. Esses eventos podem ter alertas dos serviços de meteorologia, dando possibilidade de as residências serem protegidas de alguma forma, sendo objetos de filmes em que os habitantes se preparam para o vendaval tapando janelas e portas com madeira bem pregada. O que não se pode prever é a total destruição de bairros inteiros por onde o tornado passa até perder a força indo ao interior do continente.

*Aldo Paviani, geógrafo, é Professor Emérito da Universidade de Brasília (UnB).

 

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