Guerra no Oriente Médio – a época dos monstros

Imagem: David Peinado
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por BERNARD HORSTMANN*

O ataque a uma base dos EUA e o ato de vingança contra todo o sistema da ONU por parte do Ocidente, escalam mais ainda o conflito no Oriente Médio

Ontem, 3 soldados norte-americanos foram mortos e 34 feridos devido a um ataque que supostamente atingiu um local conhecido como Torre 22. Esse local faz parte da área de Al Tanf, onde tropas norte-americanas ocupam ilegalmente partes da Síria para controlar o tráfego na estrada principal entre o Iraque e a Síria.

Os relatórios até agora não respondem a muitas das questões que surgem.

A Torre 22 fica no lado jordaniano da fronteira, mas a Jordânia insiste que nenhum ataque ocorreu no seu território.

Outra anomalia é o alto índice de feridos no suposto ataque de drones. Os drones são usados ​​em massa na guerra da Ucrânia, mas as baixas que causam são geralmente menos de um punhado por drone.

As defesas aéreas altamente automatizadas de curto e médio alcance (C-RAMs, o equivalente aos canhões navais Phalanx) na base devem ser capazes de abater qualquer drone. Por que não funcionaram?

Os EUA também usaram a base de Al Tanf e o campo de Rukban para alojar e treinar grupos dissidentes do ISIS, para que possam atacar os supostos inimigos dos EUA. Alguma dessas pessoas estava por perto?

Os Estados Unidos afirmam que um grupo da resistência iraquiana, alegadamente apoiado pelo Irã, é responsável pelo ataque. Há vários desses grupos aliados ao Irã na Síria e no Iraque. Qual deles terá feito isto? Será que os Estados Unidos sabem disso? O Irã nega qualquer envolvimento no ataque.

O ataque é certamente uma escalada em relação aos anteriores. O presidente Biden disse que responderá a isso .

A questão então é saber onde responder (Síria, Iraque, Irã) e em que grau. Muito provavelmente os EUA irão intensificar o seu bombardeio anterior contra este ou aquele grupo de resistência do Iraque. Se os EUA atacarem qualquer instituição ou posição relacionada com o Estado, a situação vai se agravar ainda mais.

O campo da resistência tentaria, então, danificar mais ativos dos EUA. Desde o assassinato do General Quassam Suleimani pelos EUA, o seu objetivo geral é retirar os EUA do Oriente Médio.

A resposta imediata dos EUA ao ataque foi a ativação de aviões-tanque de longo alcance:

Os aviões-tanque de reabastecimento aéreo são usados ​​para manter caças no ar por várias horas. As razões para manter os jatos no ar podem não ser necessariamente para atacar alguém, mas para evitar que sejam destruídos por um ataque às próprias pistas de pouso.

Os EUA têm várias bases no Oriente Médio que albergam muitos jatos caros.

Se os EUA suspeitarem que essas bases serão atacadas, vão ser precisos muitos aviões-tanque para salvar os jatos atualmente estacionados nelas.

Poderíamos concluir disso que os EUA atacarão um alvo tão relevante que terão de se preparar para um ataque de resposta total às suas próprias bases no Oriente Médio.

Existem várias outras possibilidades, mas esta parece ser a conclusão mais provável.

Agora vamos dar um passo atrás para ver a situação mais ampla.

A atual escalada no Oriente Médio deve-se à tentativa sionista de limpar etnicamente Gaza, a Cisjordânia e o sul do Líbano. O apoio ativo dos EUA a este objetivo conduziu a mais guerras americanas no Iémen, no Iraque e agora na Síria. Embora os EUA tenham afirmado que não queriam uma guerra total no Médio Oriente, fizeram o seu melhor para promove-la.

A decisão distópica dos EUA e dos seus vassalos europeus de negar todo o apoio à UNRWA como resposta à decisão da Corte Internacional de Justiça contra o genocídio dos palestinos por parte de Israel foi uma nova escalada. Que uma dúzia ou menos dos 30 mil trabalhadores da UNRWA estiveram provavelmente envolvidos nos acontecimentos de 7 de Outubro era conhecido há semanas . Implementar isso logo após a decisão do CIJ ter acontecido é um claro ato de vingança contra todo o sistema da ONU.

Esta é a ordem baseada em regras, onde os EUA criam e descartam todas as regras à vontade, lutando contra o direito internacional e humanitário há muito estabelecido.

A CIJ é o mais alto tribunal independente que a humanidade possui. Os EUA e os seus representantes decidiram lutar contra a lei vigente no mundo.

É a ordem baseada em regras contra qualquer pessoa que não a siga. Este é o passado unilateral que luta contra o futuro multilateral em ascensão. Uma época perigosa.

Como cita Arnaud Bertrand :

“O velho mundo está morrendo e o novo mundo luta para nascer: agora é a hora dos monstros.”
Antonio Gramsci

*Bernhard Horstmann é editor da mídia independente norte-americana Moon of Alabama.

Traduzido por Ricardo Kobayaski.

Publicado originalmente no site Moon Of Alabama.


A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • A colonização da filosofiamar estacas 14/11/2024 Por ÉRICO ANDRADE: A filosofia que não reconhece o terreno onde pisa corrobora o alcance colonial dos seus conceitos
  • O entretenimento como religiãomóveis antigos máquina de escrever televisão 18/11/2024 Por EUGÊNIO BUCCI: Quando fala a língua do rádio, da TV ou da Internet, uma agremiação mística se converte à cosmogonia barata do rádio, da televisão e da internet
  • Antonio Candido, anotações subliminaresantonio candido 16/11/2024 Por VINÍCIUS MADUREIRA MAIA: Comentários sobre os mais de setenta cadernos de notas feitos por Antonio Candido
  • O veto à Venezuela nos BRICSMÁQUINAS FOTOGRÁFICAS 19/11/2024 Por GIOVANNI MESQUITA: Qual seria o maior desaforo ao imperialismo, colocar a Venezuela nos BRICS ou criar os BRICS?
  • Balanço da esquerda no final de 2024Renato Janine Ribeiro 19/11/2024 Por RENATO JANINE RIBEIRO: A realidade impõe desde já entender que o campo da esquerda, especialmente o PT, não tem alternativa a não ser o nome de Luiz Inácio Lula da Silva para 2026
  • Donald Trump e o sistema mundialJosé Luís Fiori 21/11/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: Se houver um acordo de paz na Ucrânia, o mais provável é que ele seja ponto de partida de uma nova corrida armamentista dentro da própria Europa e entre os EUA e a Rússia
  • Mudanças no modelo de pós-graduaçãobiblioteca universidade 21/11/2024 Por ANTÔNIO DAVID: O doutorado direto não é um demérito, e doutores que realizaram o doutorado direto não são doutores pela metade
  • Notas sobre a disputa em São Paulogilberto maringoni 18/11/2024 Por GILBERTO MARINGONI: É preciso recuperar a rebeldia da esquerda. Se alguém chegasse de Marte e fosse acompanhar um debate de TV, seria difícil dizer quem seria o candidato de esquerda, ou de oposição
  • A falácia das “metodologias ativas”sala de aula 23/10/2024 Por MÁRCIO ALESSANDRO DE OLIVEIRA: A pedagogia moderna, que é totalitária, não questiona nada, e trata com desdém e crueldade quem a questiona. Por isso mesmo deve ser combatida
  • Freud no século XXIcultura peça transversal 24/07/2024 Por GILSON IANNINI: Trecho do livro recém-lançado

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES