A cena brasileira – XXII

Imagem: Thiago Japyassu
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por BENÍCIO VIERO SCHMIDT*

Comentários sobre acontecimentos recentes

No Congresso discute-se e vota-se a nova legislação eleitoral, em fatias. O projeto da relatora da Deputada Renata Abreu, (Podemos/SP) propunha o fim do sistema proporcional em lista aberta, vigente desde 1945, e sua substituição pelo Distritão e depois de 2022 um quase-retorno à fórmula de distrito misto, em que metade da Câmara seria eleita em distritos uninominais, sendo a outra metade eleita pelo sistema proporcional atual

Com o Distritão as cadeiras seriam preenchidas pelos parlamentares mais votados em cada Estado, exigindo-se, ainda, uma nova cláusula de barreira pela qual os partidos deveriam ter um mínimo de votos em cada distrito.

Outra proposição é o projeto de lei complementar (PLP) 112/2021 instituindo um código eleitoral que substitui a legislação fragmentada sobre a matéria. A matéria está em tramitação na Câmara, antes de seguir para o Senado. O derrotado na Câmara Federal (primeira votação) foi o Distritão, todavia com apoio maciço às coligações partidárias, que permitirá a federação de partidos já nas próximas eleições proporcionais.

Outras questões envolvidas: (a) pesquisas eleitorais necessitariam de um índice de acerto do instituto nos últimos cinco pleitos; (b) limita-se a capacidade fiscalizadora da Justiça Eleitoral e diminuem as obrigações de prestação de contas por parte dos dirigentes partidários; (c) cotas de gênero não avançam; (d) não há previsão de cotas para negros no financiamento eleitoral; (e) a cassação de mandatos pela Justiça Eleitoral é dificultada e crimes eleitorais são transformados em infrações cíveis, como o transporte de eleitores até as urnas; (f) as decisões de TSE deverão ser tomadas com um ano de antecedência para serem aplicadas às eleições. Todas estas medidas, todavia, ainda dependem de aprovação na Câmara e no Senado.

Enquanto isto, uma mini-reforma trabalhista é proposta, acoplada aos benefícios emergenciais contra o desemprego e de apoio aos trabalhadores informais. A precarização das relações de trabalho e o impedimento ao acesso gratuito à Justiça do Trabalho são as características mais dramáticas. A custo de R$ 41 bilhões, a MP foi aprovada pela Câmara Federal e segue ao Senado.

O Ministério de Educação continua saliente pela inatividade. Além do fracasso das chamadas ao ENEM (49% de ausentes), o ministro faz novas revelações bombásticas de seu primário pensamento (“a universidade não é para todos”). Continua surpreso com a abrangência das políticas educacionais e com a magnitude de seu ministério. Um desastre e uma conversão privatista galopante dos critérios que devem reger a educação nacional. Destaque-se, ainda no âmbito do MEC, o ato da presidente da CAPES nomeando como sua diretora de cooperação internacional sua própria aluna, com doutorado em Direito inconcluso na universidade de sua família no interior der São Paulo. Uma aberração!

No mais, com a ilustrativa prisão de Roberto Jeferson (presidente do PTB), seguem-se as acusações ao presidente da república, que vão até a alegação de curandeirismo. Apesar disto, o banco Santander dá guarida a uma consultora de Brasília que propõe “golpe” contra as pretensões de Lula. Também foi publicado artigo no Estadão, em 13 agosto, por três grandes industriais contra a polarização (Lula x Bolsonaro) vigente; todavia, com pesados argumentos contra uma mudança no atual quadro político. Vida que segue!

*Benicio Viero Schmidt é professor aposentado de sociologia na UnB e consultor da Empower Consult. Autor, entre outros livros, de O Estado e a política urbana no Brasil (LP&M).

 

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • Um estudo do caso Ailton Krenak1974__Identidade ignorada 21/07/2024 Por MARIA SILVIA CINTRA MARTINS: Prefiro sonhar com Krenak o parentesco com a natureza e com as pedras do que embarcar na naturalização do genocídio
  • Clarice Lispector no cinemacultura a paixão segundo g.h. 22/07/2024 Por LUCIANA MOLINA: Comentário sobre três adaptações cinematográficas da obra de Clarice Lispector
  • O princípio de autodestruiçãoLeonardo Boff 25/07/2024 Por LEONARDO BOFF: Qual ciência é boa para a transformação mundial?
  • Filosofia da práxis como poiésiscultura lenora de barros 24/07/2024 Por GENILDO FERREIRA DA SILVA & JOSÉ CRISÓSTOMO DE SOUZA: Fazer filosofia é, para o Poética, fazer filosofia contemporânea, crítica e temática
  • Que horas são no relógio de guerra da OTAN?José Luís Fiori 17/07/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: Os ponteiros do “relógio da guerra mundial” estão se movendo de forma cada vez mais acelerada
  • Apagão digitalSergio Amadeu da Silveira 22/07/2024 Por SÉRGIO AMADEU DA SILVEIRA: A catástrofe algorítmica e a nuvem do “apagão”
  • A disputa de Taiwan e a inovação tecnológica na ChinaChina Flag 20/07/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: A China já é hoje a líder mundial em 37 das 44 tecnologias consideradas mais importantes para o desenvolvimento econômico e militar do futuro
  • A produção ensaística de Ailton Krenakcultura gotas transp 11/07/2024 Por FILIPE DE FREITAS GONÇALVES: Ao radicalizar sua crítica ao capitalismo, Krenak esquece de que o que está levando o mundo a seu fim é o sistema econômico e social em que vivemos e não nossa separação da natureza
  • A radicalidade da vida estéticacultura 04 20/07/2024 Por AMANDA DE ALMEIDA ROMÃO: O sentido da vida para Contardo Calligaris
  • A questão agrária no Brasil — segundo Octávio IanniJose-Raimundo-Trindade2 19/07/2024 Por JOSÉ RAIMUNDO TRINDADE: As contribuições de Ianni podem auxiliar a reformular o debate agrário brasileiro, sendo que as obras do autor nos apontam os eixos para se repensar a estrutura fundiária brasileira

PESQUISAR

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES