Por HERALDO CAMPOS*
Espera-se que a caça aos supostos “fantasmas incendiários” continue, a justiça seja feita, os danos ambientais sejam contabilizados e a conta enviada para ser paga aos interessados no caos social
Nessa secura do clima, aumentada pela fumaceira provocada pelos incêndios criminosos nas matas dos vários biomas do território brasileiro, parei outro dia numa mercearia para tomar uma “água que o passarinho não bebe”, porque ninguém é de ferro.
Por acaso, o aparelho de som do estabelecimento comercial estava tocando a enigmática composição “Alcohol” de Jorge Ben Jor, do ano de 1994, e que não ouvia há algum tempo. Um pequeno trecho dessa canção diz que “A caça ao fantasma continua porque / O fogo é mais antigo que o fogão”, o que me fez lembrar de artigo que escrevi nessa época sobre os lobbies das águas.[1]
Assim, nesse cenário dos dias de hoje, como o país está em chamas, a pergunta que me vem à cabeça é “a quem interessa a terra arrasada pelos incêndios”? O cidadão comum, trabalhador, parece que não tem sossego no seu dia a dia. Ele está sujeito aos mais variados tipos de pressões e de constrangimentos que interferem, drasticamente, no seu bem estar, da sua família e dos seus amigos.
Por isso, será que o fogo para loobies está a serviço da boiada nas águas,[2] dos grileiros de condomínios,[3] dos garimpeiros ilegais,[4] entre outros conhecidos grupos de especuladores e de predadores do meio ambiente? A investigação sobre os responsáveis por riscar o fósforo, propositadamente, na vegetação seca, deve se estender e baixar a lupa para chegar aos possíveis mandantes desses crimes ambientais.
Espera-se que a caça aos supostos “fantasmas incendiários” continue, a justiça seja feita, os danos ambientais sejam contabilizados e a conta enviada para ser paga aos maldosos interessados no caos social.
Os números do estrago são alarmantes. Segundo dados recentes “Nos últimos dois dias, o Brasil concentrou 71,9% de todas as queimadas registradas na América do Sul. De acordo com dados do sistema BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram 7.322 focos de incêndio nas últimas 48 horas até a sexta-feira (13).”, informa o site Brasil de Fato.[5]
“Minha esperança é necessária, mas não é suficiente. Ela, só, não ganha a luta, mas sem ela a luta fraqueja e titubeia.” (Paulo Freire).
*Heraldo Campos, geólogo, é pós-doutorado pelo Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos-USP.
Notas
[1] “Alcohol: para desinfetar os lobbies da água” artigo de 03/04/1994.
Publicado no “Caderno Folha Vale” do jornal Folha de S. Paulo.
[2] “A boiada nas águas” artigo de 11/06/2020.
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2020/06/a-boiada-nas-aguas-cronica-de-heraldo.html
[3] “Grileiros de condomínio” artigo de 17/11/2020.
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2020/11/grileiros-de-condominio.html
[4] “Conhecer a Amazônia antes que acabe” artigo de 03/12/2023.
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2023/12/conhecer-amazonia-antes-que-acabe.html
[5] “Brasil concentra 71,9% das queimadas na América do Sul nas últimas 48h”.
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