O desemprego assola a economia

Marina Gusmão, Espiral branca.
image_pdf

Por ALDO PAVIANI*

Ao se observar o horizonte, nada surge que aponte planos, programas e medidas que façam a economia voltar a crescer e, com isso, gerar postos de trabalho

Acompanho a eliminação de empregos nas atividades econômicas, indústrias, comércio e atividades sociais durante algumas décadas. Por todo esse tempo, o desemprego é tido como continuado. São quase 15 milhões de desempregados no Brasil (ou 14,7% a PEA, no primeiro trimestre de 2021, segundo o IBGE) e não há indícios que a economia do país se aqueça para ultrapassar ou mesmo evitar a continuidade desse processo. A tragédia só não é maior porque o que se chama de “informal”, faz aumentar o número de biscateiros, “faz tudo” ou dos que aguardam na esquina ser chamado para alguma tarefa remunerada. Todavia, com o crescimento dos que estão assim classificados faz com que se estabeleça concorrência entre esses personagens sendo, portanto, conduzidos a não terem o que fazer e obter algum ganho (vulgarmente denominada de “renda” – que é do capital e não do trabalho).

No caso de Brasília, a Pesquisa de Emprego e Desemprego de abril de 2021 (Codeplan/DF) estima em 322.000 desempregados, de uma PEA de 1.641.000 pessoas, o que indica um percentual de quase 20% de desempregados, um pouco menos do que há um ano atrás, quando foi divulgado haver 333.000 desempregados. Apesar da redução, é de se calcular que a pandemia da covid-19 possa agravar o quadro, pois muitas empresas estão fechando as portas e, com isso, demitindo empregados. A próxima pesquisa poderá confirmar ou não essa situação preocupante.

Estabeleci o terno “lacunas de trabalho” para aqueles postos eliminados ao longo do processo.

Na lacuna não mais haverá qualquer possibilidade de retorno ao status quo ante, e, em resumo, é o pior tipo de desemprego numa economia. Ele é identificado como um “buraco negro” que devora a atividade que poderia acontecer. No entanto, não vejo como transformar as lacunas de trabalho em estatísticas que possam colaborar com a tomada de decisões de como reduzi-las. Assim, fica o conceito inovador em aberto para futuras possibilidade de utilização.

Jornalista da Folha de São Paulo, Vinicius Torres Freire, escreve – em matéria de 30 de maio passado, a respeito de “O erro do Pessimismo exagerado”, que “A adaptação técnica à recessão da covid deve acelerar a crise estrutural do trabalho”. E prossegue, criticando o governo Bolsonaro. O ministro da

Economia refere que “vai para o ataque”, que irá baixar um “pacotezinho social de favores para as falanges bolsonaristas, como a dos caminhoneiros”. Prossegue Torres Freire: ainda “Haverá grande perdão de impostos para pequenas empresas em particular. Guedes articula agrados à indústria. Haverá favores até privatização, na da Eletrobras, por exemplo. Há um esquema azeitado para adquirir apoio de parlamentares. Tudo isto, a meu ver tem ligações fortes com todas as estratégias visando a eleição de 2022. Joga-se todas as cartadas e o apoio do chamado “Centrão” será fundamental para ir em frente com essa desesperada forma de se manter no poder, inclusive mantendo o presidente da Arthur Lira (PP/Alagoas) como aliado, debaixo de generosas verbas alimentando as emendas parlamentares – este ano somando mais de R$ 48 bilhões – um recorde na história política do país.

Enquanto isso, não se percebe nenhum resquício de atitudes que levem a baixar medidas que minorem o drama dos desempregados. Não há incentivo para igualmente atenuar os efeitos da pandemia sobre pequenas e médias empresas em dificuldades. Muitas já fecharam as portas, levadas à falência por não possuírem capital de reserva para suportar meses em que as vendas deixaram de ser efetivas, pois o consumo foi reduzido em muito, devido às incertezas das famílias de “como será o dia de amanhã”, como a mídia considera as dificuldades dos brasileiros em geral. Por falta de consumo que aportem receitas as empresas demitem, o que eleva o desemprego. Assim, no Caderno Economia, o Correio Braziliense, edição de 28 de maio de 2021, estampa a manchete “Desemprego cresce e bate novo recorde”, ou seja, chega a quase 15 milhões de pessoas, como referido.

Ao se observar o horizonte, nada surge que aponte planos, programas e medidas que façam a economia voltar a crescer e, com isso, gerar postos de trabalho e renda para as empresas. Por isso, neste contexto, pergunta-se quais as políticas públicas desejáveis para estancar o desemprego e viabilizar políticas públicas necessárias e desejáveis?

*Aldo Paviani, geógrafo, é Professor Emérito da Universidade de Brasília (UnB).

 

Veja todos artigos de

MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

1
O segundo choque global da China
06 Dec 2025 Por RENILDO SOUZA: Quando a fábrica do mundo também se torna seu laboratório mais avançado, uma nova hierarquia global começa a se desenhar, deixando nações inteiras diante de um futuro colonial repaginado
2
Energia nuclear brasileira
06 Dec 2025 Por ANA LUIZA ROCHA PORTO & FERNANDO MARTINI: Em um momento decisivo, a soberania energética e o destino nacional se encontram na encruzilhada da tecnologia nuclear
3
Simulacros de universidade
09 Dec 2025 Por ALIPIO DESOUSA FILHO: A falsa dicotomia que assola o ensino superior: de um lado, a transformação em empresa; de outro, a descolonização que vira culto à ignorância seletiva
4
A guerra da Ucrânia em seu epílogo
11 Dec 2025 Por RICARDO CAVALCANTI-SCHIEL: A arrogância ocidental, que acreditou poder derrotar a Rússia, esbarra agora na realidade geopolítica: a OTAN assiste ao colapso cumulativo da frente ucraniana
5
Asad Haider
08 Dec 2025 Por ALEXANDRE LINARES: A militância de Asad Haider estava no gesto que entrelaça a dor do corpo racializado com a análise implacável das estruturas
6
O filho de mil homens
26 Nov 2025 Por DANIEL BRAZIL: Considerações sobre o filme de Daniel Rezende, em exibição nos cinemas
7
Uma nova revista marxista
11 Dec 2025 Por MICHAE LÖWY: A “Inprecor” chega ao Brasil como herdeira da Quarta Internacional de Trotsky, trazendo uma voz marxista internacionalista em meio a um cenário de revistas acadêmicas
8
Raymond Williams & educação
10 Dec 2025 Por DÉBORA MAZZA: Comentário sobre o livro recém-lançado de Alexandro Henrique Paixão
9
Considerações sobre o marxismo ocidental
07 Dec 2025 Por RICARDO MUSSE: Breves considerações sobre o livro de Perry Anderson
10
O agente secreto
07 Dec 2025 Por LINDBERG CAMPOS: Considerações sobre o filme de Kleber Mendonça Filho, em exibição nos cinemas
11
Impactos sociais da pílula anticoncepcional
08 Dec 2025 Por FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA: A pílula anticoncepcional não foi apenas um medicamento, mas a chave que redefiniu a demografia, a economia e o próprio lugar da mulher na sociedade brasileira
12
Insurreições negras no Brasil
08 Dec 2025 Por MÁRIO MAESTRI: Um pequeno clássico esquecido da historiografia marxista brasileira
13
As lágrimas amargas de Michelle Bolsonaro
07 Dec 2025 Por CAIO VASCONCELLOS: Estetização da política e melodrama: A performance política de Michelle como contraponto emocional e religioso ao estilo agressivo de Jair Bolsonaro
14
A armadilha da austeridade permanente
10 Dec 2025 Por PEDRO PAULO ZAHLUTH BASTOS: Enquanto o Brasil se debate nos limites do arcabouço fiscal, a rivalidade sino-americana abre uma janela histórica para a reindustrialização – que não poderemos atravessar sem reformar as amarras da austeridade
15
O empreendedorismo e a economia solidária – parte 2
08 Dec 2025 Por RENATO DAGNINO: Quando a lógica do empreendedorismo contamina a Economia Solidária, o projeto que prometia um futuro pós-capitalista pode estar reproduzindo os mesmos circuitos que deseja superar
Veja todos artigos de

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES