Pelos que ficaram em Pistóia!

Imagem_Oto Vale
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por MANUEL DOMINGOS NETO*

O Brasil precisa de Forças Armadas respeitadas

Ao dizer que o Exército estaria se associando ao genocídio, o ministro Gilmar Mendes falou o que os mais informados deveriam estar gritando há muito tempo.

O governo federal menospreza a vida dos brasileiros. Como instância pública responsável por coordenar o esforço nacional contra a pandemia, não cumpre o seu papel. Desrespeita o sofrimento da sociedade, manipula estatísticas, receita remédio ineficaz, agride a ciência, atrapalha governadores e prefeitos que lutam para atenuar a catástrofe. Age em favor da morte de multidões indefesas. É genocida.

Na linha de frente dessa disposição macabra estão os militares. Um general da ativa responde pelo Ministério da Saúde. Com a autorização do Comandante do Exército, deixou a tarefa para a qual foi preparado e assumiu outra da qual não tem noção. Camaradas seus ocupam na pasta as cadeiras em que deveriam sentar civis especializados.

A conta está chegando para as Forças Armadas e não é pequena, alertou Gilmar Mendes.

Além das dezenas de milhares de vítimas da pandemia, os brasileiros sofrerão crescentemente os efeitos da desastrosa política econômica, das estultices da política externa vassala de Washington, do desmonte do sistema de ensino, ciência e tecnologia, dos estragos no meio ambiente, da ameaça de extinção dos povos originários…

Tormentas e apertos que vivemos hoje serão pequenos diante do que nos espera no curtíssimo prazo. A responsabilidade pelos estragos será cobrada.

Oficiais reagiram indignados às palavras de Gilmar. O Ministro da Defesa, articulado com os comandantes, disse que o contingente militar mobilizado contra a pandemia seria superior ao enviado à Itália.

Não há limites para a insensatez. Esta comparação não tem cabimento.

Os generais devem um mínimo de respeito aos heróis que entregaram suas vidas na Itália. Eram homens de origem modesta, saídos das periferias das cidades e de vilarejos do interior. Deixaram o Brasil mal treinados, mal vestidos, desavisados do terror que teriam pela frente. No zunido das balas compreenderam que lutavam contra o tedesco feroz, o direitista extremado, fundamentalista, racista, terrorista, inimigo da democracia, insensível ao sofrimento dos povos do mundo, avesso ao que há de bom na civilização.

Alguns ficaram em Pistóia até 1962, quando seus restos passaram a repousar no Brasil. Morreram combatendo as proposições hoje defendidas por Bolsonaro. Comandantes vilipendiam ao usar a memória destes homens para se defender de seus erros. Os parentes dos pracinhas persistem espalhados nas periferias das cidades e pelos sertões afora. Constituem a maioria das vítimas da pandemia.

A FEB não foi à Itália decidir a guerra. Representou um modestíssimo contingente sob o comando do Exército Americano. Chegou quando a derrota do nazifascimo estava decretada. Mas o seu peso simbólico é imensurável: mostrou ao mundo a opção brasileira pela liberdade.

Pedir que não lhes sejam cobradas suas responsabilidades, comandantes? Como disse Flávio Dino, quem entra no jogo político tem que aprender a receber críticas.

Está passando da hora de o comandante Pujol reunir a família militar, encher os pulmões e ordenar: “pela memória dos que ficaram em Pistóia, abandonaaar cargos, sinecuras e prebendas! Meia volta, volver!”

O Brasil precisa de Forças Armadas respeitadas.

*Manuel Domingos Neto é professor aposentado da UFC. Foi presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) e vice-presidente do CNPq.

 

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • Hans Kelsen e o eros platônicoplatão 16/10/2024 Por ARI MARCELO SOLON & LEONARDO PASSINATO E SILVA: Para Kelsen, a doutrina política platônica está calcada na homossexualidade do filósofo, circunstância que explicaria uma tendência totalitária do projeto filosófico platônico
  • Genocídio sem hesitaçãoemaranhado 17/10/2024 Por ARUNDHATI ROY: Discurso de aceitação do prêmio PEN Pinter 2024, proferido na noite de 10 de outubro de 2024
  • A longa marcha da esquerda brasileiravermelho 371 19/10/2024 Por VALERIO ARCARY: Nos dois extremos estão avaliações de que ou a esquerda “morreu”, ou que ela permanece “intacta”, mas ambos, paradoxalmente, subestimam, por razões diferentes, o perigo bolsonarista
  • Influencer na Universidade públicapexels-mccutcheon-1212407 21/10/2024 Por JOHN KENNEDY FERREIRA: Considerações sobre a performance na Universidade Federal do Maranhão.
  • Forma-livreLuizito 2 20/10/2024 Por LUIZ RENATO MARTINS: O modo brasileiro de abstração ou mal-estar na história
  • Não existe alternativa?lâmpadas 23/06/2023 Por PEDRO PAULO ZAHLUTH BASTOS: Austeridade, política e ideologia do novo arcabouço fiscal
  • Armando de Freitas Filho (1940-2024)armando de freitas filho 27/09/2024 Por MARCOS SISCAR: Em homenagem ao poeta falecido ontem, republicamos a resenha do seu livro “Lar,”
  • A tragédia sem farsaestátua 17/10/2024 Por BARUC CARVALHO MARTINS: Breves comentários sobre a derrota da esquerda na eleição municipal
  • Van Gogh, o pintor que amava as letrasfig1samuel 12/10/2024 Por SAMUEL KILSZTAJN: Van Gogh costumava descrever literalmente seus quadros em detalhes, abusando de adjetivar as cores, tanto antes de pintá-los como depois de prontos
  • O belicismo de Sir Keir Starmer, o trabalhistabélico uk 18/10/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: Sir Keir Starmer já conseguiu superar o chanceler alemão Olaf Scholz como a liderança mais belicista dentro da Europa, em relação à escalada da Guerra na Ucrânia

PESQUISAR

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES