Por MANUEL DOMINGOS NETO*
Pazuello e seus coronéis-acompanhantes foram cumprir missão atribuída por hierarquia superior no Ministério da Saúde
O general Pazuello não ocupou o Ministério da Saúde por indicação de uma corrente política. Não foi nomeado por afinidades com a pasta. Sequer foi escolha do Presidente, que, aliás deve o cargo ao amparo assegurado pelas corporações militares, em particular ao comandante do Exército, conforme reconheceu publicamente.
Pazuello e seus coronéis-acompanhantes foram cumprir missão atribuída por hierarquia superior. Talvez o único momento em que o ex-ministro falou com justeza foi quando explicou a razão de sua demissão: “missão cumprida”.
Se a missão resultou em tragédia, que os senadores não livrem a cadeia hierárquica. O homem estava de paletó, mas não deixava de ser um general da ativa absolutamente contingenciado por seus superiores.
Retive o que ouvi no início da tragédia: Pazuello seria o cara certo para levar do jeito certo e na hora certa o que for preciso; era bom em logística; a política do ministério estaria definida, faltando um intendente; enfrentar pandemia seria gerenciar crise e, é preciso alguém que saiba mandar…
Uns pretendem a responsabilização do General-Ministro; outros, a de seu comandante-em-chefe, o Presidente.
E os comandantes militares que escolheram Pazuello e sua equipe de oficiais da ativa que ocuparam o Ministério da Saúde?
O general Pujol assinou a liberação desses homens. No mais, sob seu comando, a Corporação produziu grandes quantidades de remédio ineficaz, esbagaçando recursos públicos.
Para driblar perguntas incômodas, Pazuello dizia: não é responsabilidade minha; não me competia intromissão no caso; isso é problema do corpo técnico; não tenho que considerar ordens emanadas através de redes sociais… Parecia um atendente à distância de uma empresa: “o sistema não reconhece sua pergunta”. O general desapareceu, ficou o burocrata obtuso.
Não tive pena de Pazuello quando uma mulher o chamou de mentiroso. E me irritei quando o senador que dirigia os trabalhos pediu calma a sua colega. Ninguém cobrou calma aos outros senadores justificadamente exaltados.
Mas, de fato, minha curiosidade foi para as reações do cassino, como é designado o restaurante dos oficiais. (A tropa é alimentada no “rancho”).
Se é duro para aquartelados ver um general ser desmanchado diante de políticos, imagine se a acusação de faltar com a verdade parte de uma mulher!
Fico torcendo para que o Senado, intimidado, não se perca pelo acovardamento. Pazuello não é um ator isolado na trama macabra que vitimou milhares de homens e mulheres.
O militar é um servidor público muito bem pago pela sociedade. Que a sociedade, representada pelos parlamentares, cobre suas responsabilidades e o mande de volta aos seus afazeres institucionais.
*Manuel Domingos Neto é professor aposentado da UFC/UFF, ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) e ex-vice-presidente do CNPq.