Senadores, chamem os comandantes!

Blanca Alaníz, serie Ciudad y comercio , Fotografía digital, Ciudad de México, 2019.
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por MANUEL DOMINGOS NETO*

Pazuello e seus coronéis-acompanhantes foram cumprir missão atribuída por hierarquia superior no Ministério da Saúde

O general Pazuello não ocupou o Ministério da Saúde por indicação de uma corrente política. Não foi nomeado por afinidades com a pasta. Sequer foi escolha do Presidente, que, aliás deve o cargo ao amparo assegurado pelas corporações militares, em particular ao comandante do Exército, conforme reconheceu publicamente.

Pazuello e seus coronéis-acompanhantes foram cumprir missão atribuída por hierarquia superior. Talvez o único momento em que o ex-ministro falou com justeza foi quando explicou a razão de sua demissão: “missão cumprida”.

Se a missão resultou em tragédia, que os senadores não livrem a cadeia hierárquica. O homem estava de paletó, mas não deixava de ser um general da ativa absolutamente contingenciado por seus superiores.

Retive o que ouvi no início da tragédia: Pazuello seria o cara certo para levar do jeito certo e na hora certa o que for preciso; era bom em logística; a política do ministério estaria definida, faltando um intendente; enfrentar pandemia seria gerenciar crise e, é preciso alguém que saiba mandar…

Uns pretendem a responsabilização do General-Ministro; outros, a de seu  comandante-em-chefe, o Presidente.

E os comandantes militares que escolheram Pazuello e sua equipe de oficiais da ativa que ocuparam o Ministério da Saúde?

O general Pujol assinou a liberação desses homens. No mais, sob seu comando, a Corporação produziu grandes quantidades de remédio ineficaz, esbagaçando recursos públicos.

Para driblar perguntas incômodas, Pazuello dizia: não é responsabilidade minha; não me competia intromissão no caso; isso é problema do corpo técnico; não tenho que considerar ordens emanadas através de redes sociais… Parecia um atendente à distância de uma empresa: “o sistema não reconhece sua pergunta”. O general desapareceu, ficou o burocrata obtuso.

Não tive pena de Pazuello quando uma mulher o chamou de mentiroso. E me irritei quando o senador que dirigia os trabalhos pediu calma a sua colega. Ninguém cobrou calma aos outros senadores justificadamente exaltados.

Mas, de fato, minha curiosidade foi para as reações do cassino, como é designado o restaurante dos oficiais. (A tropa é alimentada no “rancho”).

Se é duro para aquartelados ver um general ser desmanchado diante de políticos, imagine se a acusação de faltar com a verdade parte de uma mulher!

Fico torcendo para que o Senado, intimidado, não se perca pelo acovardamento. Pazuello não é um ator isolado na trama macabra que vitimou milhares de homens e mulheres.

O militar é um servidor público muito bem pago pela sociedade. Que a sociedade, representada pelos parlamentares, cobre suas responsabilidades e o mande de volta aos seus afazeres institucionais.

*Manuel Domingos Neto é professor aposentado da UFC/UFF, ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) e ex-vice-presidente do CNPq.

 

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • A colonização da filosofiamar estacas 14/11/2024 Por ÉRICO ANDRADE: A filosofia que não reconhece o terreno onde pisa corrobora o alcance colonial dos seus conceitos
  • O entretenimento como religiãomóveis antigos máquina de escrever televisão 18/11/2024 Por EUGÊNIO BUCCI: Quando fala a língua do rádio, da TV ou da Internet, uma agremiação mística se converte à cosmogonia barata do rádio, da televisão e da internet
  • Antonio Candido, anotações subliminaresantonio candido 16/11/2024 Por VINÍCIUS MADUREIRA MAIA: Comentários sobre os mais de setenta cadernos de notas feitos por Antonio Candido
  • Os concursos na USPMúsica Arquitetura 17/11/2024 Por LINCOLN SECCO: A judicialização de concursos públicos de docentes na USP não é uma novidade, mas tende a crescer por uma série de razões que deveriam preocupar a comunidade universitária
  • A execução extrajudicial de Sílvio Almeidaqueima de livros 11/11/2024 Por MÁRIO MAESTRI: A denúncia foi patrocinada por uma ONG de raiz estadunidense, o que é paradoxal, devido à autoridade e status oficial e público da ministra da Igualdade Racial
  • O veto à Venezuela nos BRICSMÁQUINAS FOTOGRÁFICAS 19/11/2024 Por GIOVANNI MESQUITA: Qual seria o maior desaforo ao imperialismo, colocar a Venezuela nos BRICS ou criar os BRICS?
  • Balanço da esquerda no final de 2024Renato Janine Ribeiro 19/11/2024 Por RENATO JANINE RIBEIRO: A realidade impõe desde já entender que o campo da esquerda, especialmente o PT, não tem alternativa a não ser o nome de Luiz Inácio Lula da Silva para 2026
  • A falácia das “metodologias ativas”sala de aula 23/10/2024 Por MÁRCIO ALESSANDRO DE OLIVEIRA: A pedagogia moderna, que é totalitária, não questiona nada, e trata com desdém e crueldade quem a questiona. Por isso mesmo deve ser combatida
  • Notas sobre a disputa em São Paulogilberto maringoni 18/11/2024 Por GILBERTO MARINGONI: É preciso recuperar a rebeldia da esquerda. Se alguém chegasse de Marte e fosse acompanhar um debate de TV, seria difícil dizer quem seria o candidato de esquerda, ou de oposição
  • O perde-ganha eleitoralJean-Marc-von-der-Weid3 17/11/2024 Por JEAN MARC VON DER WEID: Quem acreditou numa vitória da esquerda nas eleições de 2024 estava vivendo no mundo das fadas e dos elfos

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES