Por LUIS FELIPE MIGUEL*
É bom relembrar quem é o capitão carioca que governa os paulistas
Tarcísio de Freitas apoiou a reforma da tributação do consumo e Jair Bolsonaro ficou zangado. Ótimo. Mas isso bastou para que ele fosse apresentado como messias de uma nova “direita moderada”.
É bom relembrar quem é o capitão carioca que governa os paulistas.
Tarcísio de Freitas está fazendo o movimento que todo apadrinhado político faz quando chega a um cargo político maior que o de seu padrinho: tentando ganhar alguma luz própria.
E não quer arriscar um conflito direto com o governo federal. Já é difícil governar um estado que você não conhece, imagina em rota de colisão com a União.
Mas o fato de ser esperto não o torna um democrata. Nem de longe. Tarcísio de Freitas é um bolsonarista de primeira hora, que foi cúmplice de todos os desmandos de seu chefe. Não mostra nenhum freio ético.
O assassinato de Felipe Silva de Lima ainda está para ser elucidado. Ele foi executado em Paraisópolis, quando Tarcísio de Freitas fazia campanha por lá. Depois do candidato anunciar falsamente que fora vítima de um “atentado”, a campanha do bolsonarista teve que se explicar – um áudio mostrou que eles exigiram que um cinegrafista apagasse as imagens do tiroteio.
A farsa do “atentado” já devia ser suficiente para ter impugnado a candidatura de Tarcísio de Freitas, se houvesse justiça eleitoral, ou para garantir sua derrota, se o eleitorado paulista tivesse um pingo de moralidade. A hipótese, real, de que seus seguranças matavam gente torna tudo pior ainda.
No governo, Tarcísio de Freitas não é muito diferente de um clone de Jair Bolsonaro – e não estou falando só da epiderme. Tem olavete na Cultura. Tem defesa de escola “cívico-militar”. Tem fim de exigência de vacina. Tem transferência de terras públicas para a grilagem. Tem o projeto privatista desvairado, que quer chegar à empresa estadual de águas, na contramão do consenso mundial: água não se privatiza.
Mas pouco importa, o negócio é fazer negócio. E Tarcísio de Freitas ainda desce a uma performance sob medida para agradar o bolsominion médio.
Tem oportunismo? Tem. Tarcísio de Freitas escolhe se adaptar, quer deslizar entre o bolsonarismo que o elegeu e o atavismo tucano de São Paulo.
Isso não significa que tenha dado algum passo para se converter em democrata. É uma ilusão julgar que todo fascista é uma pessoa de “princípios” intransigentes. Pode ser também um oportunista. A maioria é, eu arriscaria dizer. Mas o fascismo está lá, como uma predileção pessoal, pronto a ser colocado em prática quando as circunstâncias permitirem. E, como nós infelizmente sabemos, muitas vezes elas permitem.
*Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de Democracia na periferia capitalista: impasses do Brasil (Autêntica).
Publicado originalmente nas redes sociais do autor.
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