Federações partidárias – um desafio à esquerda

Imagem: G. Cortez
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por RAUL PONT*

Uma novidade positiva e um desafio aos partidos brasileiros

A aprovação da lei das Federações Partidárias foi um ponto fora da curva na última reforma do sistema eleitoral. Projetada para piorar as regras, a reforma não alcançou votos para retroceder às coligações eleitorais proporcionais nem o malfadado “distritão” que ocasionaria o fim dos partidos e da democracia e instalaria o reino do poder econômico e do personalismo na política brasileira.

Em vigência e em processo de regulamentação pelo TSE, o instituto da Federação traz uma novidade positiva e um desafio aos partidos brasileiros, principalmente, no campo da esquerda onde a questão da coerência, da verdadeira identidade de programa e objetivos comuns pauta a possibilidade da ação conjunta.

A nova lei é inédita e desafiadora num país com mais de 40 siglas com representação parlamentar ou em organização já apta a concorrer.

Ao exigir, para constituir a Federação dois ou mais partidos, (a) caráter nacional sem perda de soberania própria de cada participante, (b) programa comum, (c) unidade mínima por quatro anos, (d) listas unitárias e lideranças únicas das bancadas eleitas, (e) soma dos votos individuais e de legendas para a composição da proporcionalidade, a lei estabelece um desafio histórico aos partidos que se reivindicam da representação dos trabalhadores, do povo oprimido e lutam por uma sociedade socialista.

A luta histórica e estratégica dos socialistas foi e continua sendo a busca da unidade para enfrentar o inimigo comum, o capitalismo e as forças que o sustentam.

Do ponto de vista conjuntural e eleitoral a posição também se justifica. Nas eleições de 2020, a soma dos votos do campo de esquerda e de centro-esquerda alcançou apenas 20 milhões de votos (PT, PSOL, PC do B, PSB e PDT) num universo de 150 milhões de eleitores. A fragmentação partidária atual dificulta qualquer governo. A formação de blocos mais coesos e programáticos servirá, também, para dar mais governabilidade e legitimidade ao governo eleito em 2022.

A busca da unidade, da soma útil de todos os votos nas legendas e candidatos não apenas soma, mas possui uma potencialidade de multiplicação e de atração de eleitores simpatizantes e identificados pelo efeito demonstração da unidade. Nesse sentido não é demais lembrar que a cláusula de desempenho criada em 2017, agora em 2022 para a Câmara Federal será de 2% do colégio eleitoral.

O exemplo concreto dessa capacidade potencial é a manifestação permanente dos milhares que têm marchado conosco nas grandes jornadas nacionais de luta, com as frentes sociais e as centrais sindicais e que reivindicam a unidade das nossas forças na disputa política.

A história partidária no Brasil não nos favorece com experiências exitosas neste sentido e não desconhecemos que o sistema de 2 turnos ajuda mais a fragmentação do que a unidade, bem como da importância das candidaturas próprias para o fortalecimento partidário. Mesmo assim achamos que esses elementos devem ser secundarizados diante do momento crucial que vivemos onde o inimigo comum exige, sem nenhuma dúvida, a unidade do campo democrático, popular e socialista.

Nesse sentido, é positiva a recente decisão tomada pelo PT gaúcho. Sua Direção Estadual, reunida no dia 25 de novembro, aprovou resolução que toma a iniciativa e convida para uma mesa de diálogo os partidos do campo popular e socialista para debater a nova situação criada com a possibilidade da Federação partidária.

A nova lei é desafiadora aos partidos com maior identidade programática e que buscam uma coerência e um maior compromisso nas alianças políticas para governar. Um passo importante para a profunda reforma política que o Brasil precisa visando fortalecer sua frágil experiência democrática.

*Raul Pont é professor e ex-prefeito de Porto Alegre.

 

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Caio Bugiato Remy José Fontana Alexandre de Freitas Barbosa Ronald Rocha Francisco Fernandes Ladeira José Micaelson Lacerda Morais Denilson Cordeiro Luiz Renato Martins Celso Frederico Marcos Aurélio da Silva Jorge Luiz Souto Maior Tales Ab'Sáber Fábio Konder Comparato Claudio Katz Marcus Ianoni Elias Jabbour Bruno Fabricio Alcebino da Silva Jean Pierre Chauvin João Paulo Ayub Fonseca João Sette Whitaker Ferreira Eleutério F. S. Prado Luis Felipe Miguel Walnice Nogueira Galvão Julian Rodrigues Vanderlei Tenório Everaldo de Oliveira Andrade Salem Nasser Benicio Viero Schmidt Luiz Roberto Alves Tadeu Valadares Antônio Sales Rios Neto João Carlos Salles Gabriel Cohn Paulo Nogueira Batista Jr Michael Löwy Tarso Genro Henri Acselrad João Lanari Bo Plínio de Arruda Sampaio Jr. Chico Alencar Chico Whitaker Ronald León Núñez Kátia Gerab Baggio Michel Goulart da Silva Airton Paschoa Ricardo Antunes Daniel Afonso da Silva Carlos Tautz Ari Marcelo Solon Eleonora Albano Henry Burnett Priscila Figueiredo Annateresa Fabris Érico Andrade Eugênio Bucci Mário Maestri Otaviano Helene Maria Rita Kehl Atilio A. Boron Andrew Korybko Vladimir Safatle Leda Maria Paulani Paulo Martins Lorenzo Vitral Flávio R. Kothe Fernando Nogueira da Costa Bruno Machado Rodrigo de Faria Manchetômetro Milton Pinheiro Samuel Kilsztajn André Singer Marilia Pacheco Fiorillo Berenice Bento Ricardo Fabbrini João Feres Júnior Francisco Pereira de Farias Afrânio Catani Leonardo Boff José Geraldo Couto Antonio Martins Ronaldo Tadeu de Souza Sandra Bitencourt Luiz Eduardo Soares Francisco de Oliveira Barros Júnior Marcos Silva João Adolfo Hansen Alysson Leandro Mascaro Antonino Infranca Celso Favaretto Marjorie C. Marona Fernão Pessoa Ramos José Dirceu Luciano Nascimento Gerson Almeida Sergio Amadeu da Silveira Andrés del Río Michael Roberts Gilberto Lopes Carla Teixeira Daniel Brazil Mariarosaria Fabris Marilena Chauí Leonardo Sacramento João Carlos Loebens Luiz Werneck Vianna Luiz Bernardo Pericás José Raimundo Trindade Jean Marc Von Der Weid Alexandre de Lima Castro Tranjan Bernardo Ricupero Boaventura de Sousa Santos Rubens Pinto Lyra Rafael R. Ioris Alexandre Aragão de Albuquerque Ricardo Musse Luiz Carlos Bresser-Pereira Heraldo Campos Eduardo Borges Paulo Fernandes Silveira Juarez Guimarães André Márcio Neves Soares Osvaldo Coggiola Armando Boito Valerio Arcary Slavoj Žižek José Machado Moita Neto Paulo Capel Narvai Gilberto Maringoni Lincoln Secco Luiz Marques José Luís Fiori José Costa Júnior Renato Dagnino Eugênio Trivinho Valerio Arcary Manuel Domingos Neto Dennis Oliveira Jorge Branco Igor Felippe Santos Yuri Martins-Fontes Thomas Piketty Flávio Aguiar Marcelo Guimarães Lima Matheus Silveira de Souza Lucas Fiaschetti Estevez Dênis de Moraes Luís Fernando Vitagliano Bento Prado Jr. Anselm Jappe Daniel Costa Eliziário Andrade Ladislau Dowbor Liszt Vieira Ricardo Abramovay Leonardo Avritzer Marcelo Módolo Vinício Carrilho Martinez Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Paulo Sérgio Pinheiro

NOVAS PUBLICAÇÕES