A defesa das liberdades democráticas

Imagem: Grupo de Ação
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por LUCIANA GENRO*

Caminhamos com Lula contra Bolsonaro, apostando no desenvolvimento das lutas dos estudantes, da classe trabalhadora, da luta feminista e antirracista

A mobilização deste dia 11 de agosto é um marco no enfrentamento ao golpismo bolsonarista. O ex-capitão, que foi expulso das Forças Armadas, quer se reeleger para dar sequência à sua tentativa de transformar o Brasil numa ditadura. Defensor da tortura, misógino, racista e LGBTfóbico, Jair Bolsonaro é o que de pior o regime político brasileiro produziu. A naturalidade com que ele defende a tortura e o fechamento do Congresso e do STF para concentrar poderes na sua própria pessoa é resultado de múltiplos fatores que não podemos deixar de mencionar neste momento em que nos somamos a diferentes setores políticos e classes sociais contra o golpismo.

O Brasil é um dos países mais atrasados na América Latina na aplicação da Justiça de Transição – isto é, de medidas de reparação, verdade e justiça em relação aos crimes da ditadura militar. Em 2011, derrubando uma ADPF proposta pela OAB, o STF chancelou, com o apoio ativo do Procurador-Geral da República, o entendimento de que a lei da anistia não permite a persecução penal dos agentes públicos que perseguiram, torturaram e mataram opositores do regime durante a ditadura iniciada com o golpe de 1964. Este foi um dos episódios que jogaram luz sobre a transição negociada pelo alto que possibilitou o fim da ditadura sem que emergisse uma democracia real.

A extrema direita ressurge com força através da figura de Jair Bolsonaro porque esta democracia racionada que foi conquistada em 1984 não entregou o que prometeu. A Constituição de 1988, que hoje temos que defender frente aos arroubos golpistas da direita, só é verdadeiramente cumprida nos artigos em que garante a propriedade privada (não para todos) e a liberdade econômica para a exploração do trabalho (de quem consegue um).

As instituições deste regime comandado e a serviço do poder econômico são uma conquista democrática frente às trevas da ditadura, mas de forma alguma são expressão de uma democracia real. E é na falta desta que setores do povo acabaram vendo na negação da institucionalidade expressa por Jair Bolsonaro uma esperança de dias melhores, sem corrupção, sem uma justiça elitista que decide em causa própria (como vimos na decisão do STF de aumentar os salários dos seus ministros num momento em que a fome volta a assolar milhões), sem um Parlamento que protege interesses escusos através de emendas secretas e leis que garantem os interesses dos de cima e castigam os de baixo.

Esta constatação nos obriga a, ao mesmo tempo em que nos somamos aos esforços plurais para impedir o avanço reacionário e golpista, lutar pela criação de um corpo político independente que apresente, lute e mobilize por uma proposta de institucionalidade radicalmente diferente desta que somos obrigados a defender para impedir o retrocesso. Não é na defesa do status quo que iremos nos encontrar com a legítima indignação de amplas parcelas do povo que não se sentem representadas por esta democracia racionada, na qual o 1% mais rico ganha quase 40 vezes mais que os 50% mais pobres ou em que os 10 clãs mais ricos do Brasil concentram um patrimônio de R$ 400 bilhões de reais.

É nesta dialética que nos encontramos neste momento em que enfrentaremos uma eleição polarizada por Jair Bolsonaro e Lula, na qual este último é o instrumento escolhido pela maioria do povo para derrotar o obscurantismo da extrema direita. Caminhamos com Lula contra Bolsonaro, apostando no desenvolvimento das lutas dos estudantes, da classe trabalhadora, da luta feminista e antirracista para derrotar o golpismo e desenvolver uma alternativa de poder a serviço da maioria do povo.

*Luciana Genro é deputada estadual do PSol-RS. Mestra em direito pela USP.

 

⇒O site A Terra é redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores. Ajude-nos a manter esta ideia.⇐
Clique aqui e veja como.

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • A colonização da filosofiamar estacas 14/11/2024 Por ÉRICO ANDRADE: A filosofia que não reconhece o terreno onde pisa corrobora o alcance colonial dos seus conceitos
  • O entretenimento como religiãomóveis antigos máquina de escrever televisão 18/11/2024 Por EUGÊNIO BUCCI: Quando fala a língua do rádio, da TV ou da Internet, uma agremiação mística se converte à cosmogonia barata do rádio, da televisão e da internet
  • Antonio Candido, anotações subliminaresantonio candido 16/11/2024 Por VINÍCIUS MADUREIRA MAIA: Comentários sobre os mais de setenta cadernos de notas feitos por Antonio Candido
  • Os concursos na USPMúsica Arquitetura 17/11/2024 Por LINCOLN SECCO: A judicialização de concursos públicos de docentes na USP não é uma novidade, mas tende a crescer por uma série de razões que deveriam preocupar a comunidade universitária
  • A execução extrajudicial de Sílvio Almeidaqueima de livros 11/11/2024 Por MÁRIO MAESTRI: A denúncia foi patrocinada por uma ONG de raiz estadunidense, o que é paradoxal, devido à autoridade e status oficial e público da ministra da Igualdade Racial
  • O veto à Venezuela nos BRICSMÁQUINAS FOTOGRÁFICAS 19/11/2024 Por GIOVANNI MESQUITA: Qual seria o maior desaforo ao imperialismo, colocar a Venezuela nos BRICS ou criar os BRICS?
  • Balanço da esquerda no final de 2024Renato Janine Ribeiro 19/11/2024 Por RENATO JANINE RIBEIRO: A realidade impõe desde já entender que o campo da esquerda, especialmente o PT, não tem alternativa a não ser o nome de Luiz Inácio Lula da Silva para 2026
  • A falácia das “metodologias ativas”sala de aula 23/10/2024 Por MÁRCIO ALESSANDRO DE OLIVEIRA: A pedagogia moderna, que é totalitária, não questiona nada, e trata com desdém e crueldade quem a questiona. Por isso mesmo deve ser combatida
  • Notas sobre a disputa em São Paulogilberto maringoni 18/11/2024 Por GILBERTO MARINGONI: É preciso recuperar a rebeldia da esquerda. Se alguém chegasse de Marte e fosse acompanhar um debate de TV, seria difícil dizer quem seria o candidato de esquerda, ou de oposição
  • O perde-ganha eleitoralJean-Marc-von-der-Weid3 17/11/2024 Por JEAN MARC VON DER WEID: Quem acreditou numa vitória da esquerda nas eleições de 2024 estava vivendo no mundo das fadas e dos elfos

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES