Patrícia Galvão, jornalista

Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por KENNETH DAVID JACKSON*

Lançamento da primeira antologia do jornalismo de Patrícia Galvão (Pagu)

A Edusp anuncia o lançamento da primeira antologia do jornalismo de Patrícia Galvão (Pagu), Palavras de Rebeldia. Resultado de décadas de pesquisa nos arquivos, abre com uma introdução inédita de seu filho, Geraldo Galvão Ferraz, escrito há mais de 10 anos especialmente para acompanhar esta coleção do jornalismo.

A antologia resgata do esquecimento umas 200 colunas, representando trinta anos de comentários sobre a política, sociedade e cultura brasileiras (1931-1961) de uma de suas figuras mais vivas e celebradas. O leitor poderá ouvir mais uma vez a voz inconfundível da Pagu sobre a política, seguir a sua fiel dedicação aos seus ideais, ouvir a sua voz crítica e rebelde, comentada por Carlos Drummond de Andrade, e acompanhar sua visão sempre penetrante e compassiva.

A antologia antecipa o lançamento em ePub da coleção completa do jornalismo em quatro volumes, aqui amplamente representados. Abre com “Pagu e a Política”, desde seus ataques à sociedade modernista nas colunas de “A mulher do Povo” (1931), à sátira da “Konstituinte Kremiliniana” na Vanguarda Socialista (1945-6), aos temas quotidianos nas colunas assinadas ARIEL, publicadas em A Noite (1942) e à longa série “Cor local” de 1946 a 1954, assinada Pt.

Inclui documentos do processo de Patrícia pelo Tribunal de Segurança Nacional, depois da sua volta a França (1936-40), assim como a Resolução de expulsão do Partido Comunista do Brasil (1939).

Patrícia Galvão se revela no jornalismo como uma grande voz sobre as artes e a literatura, comparável a Sérgio Milliet e seu Diário Crítico. Em colunas surpreendentes, Pagu fala de Clarice Lispector, Hilda Hilst, Drummond, Lima Barreto, Graciliano e Machado. Nas artes, comenta Burle Marx, Segall, Cícero Dias, Portinari e Tarsila, entre outros. É autora das primeiras colunas no Brasil sobre Fernando Pessoa.

Na década de 1950 se dedica ao teatro, com colunas tanto sobre o teatro mundial como as peças que considera as melhores do teatro nacional, O Auto da Compadecida e Pagador de Promessas, que descreve como “a melhor de todos os tempos”. Ainda comenta a encenação em Santos ou São Paulo de peças de Beckett, Ionesco, Arrabal e Octavio Paz.

Na antologia de grandes autores mundiais (1946-1961), o seu último grande projeto, Pagu escolhe e traduz mais de 100 autores – Joyce, Woolf, Faulkner, Bréton, Cocteau, Tzara, Mansfield – incluindo um conto de Borges e, num gesto de vanguarda, conto de King Shelter, o nome que usava para seus próprios contos de detetive. E aparece Patrícia poeta, com versos que escreveu nos anos finais, assinados Solange Sohl, descobertos e prestigiados por Augusto de Campos, que participa na antologia com novo texto.

A antologia do jornalismo de Patrícia Galvão recupera uma das vozes mais originais na construção do Brasil moderno, de uma das suas figuras mais sofridas e mais resistentes. Com o jornalismo que praticou por 30 anos, Pagu conta da sua ação política e da sua rebeldia, da sátira e paródia de tudo e todos, do teatro, da apreciação dos grandes nomes da literatura brasileira e mundial. Depois da volta da democracia com o fim da guerra, refina uma visão educativa de cidadania, desejando apresentar ao público brasileiro os grandes nomes da literatura mundial do seu tempo, usando dos seus talentos de tradutora e intelectual.

O conjunto do jornalismo revela uma quantidade enorme de textos, retratando a vida de paixão de Patrícia Galvão, confirmando sua fé nos seus leitores e sua dedicação à luta para formar um Brasil melhor, merecedor dos seus ideais.

*Kenneth David Jackson é professor na Universidade de Yale, onde dirige a área Estudos de Português. Autor, entre outros livros, de Cannibal Angels: Transatlantic Modernism and the Brazilian Avant-Garde (Peter Lang).


A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • A colonização da filosofiamar estacas 14/11/2024 Por ÉRICO ANDRADE: A filosofia que não reconhece o terreno onde pisa corrobora o alcance colonial dos seus conceitos
  • O entretenimento como religiãomóveis antigos máquina de escrever televisão 18/11/2024 Por EUGÊNIO BUCCI: Quando fala a língua do rádio, da TV ou da Internet, uma agremiação mística se converte à cosmogonia barata do rádio, da televisão e da internet
  • Antonio Candido, anotações subliminaresantonio candido 16/11/2024 Por VINÍCIUS MADUREIRA MAIA: Comentários sobre os mais de setenta cadernos de notas feitos por Antonio Candido
  • Os concursos na USPMúsica Arquitetura 17/11/2024 Por LINCOLN SECCO: A judicialização de concursos públicos de docentes na USP não é uma novidade, mas tende a crescer por uma série de razões que deveriam preocupar a comunidade universitária
  • A execução extrajudicial de Sílvio Almeidaqueima de livros 11/11/2024 Por MÁRIO MAESTRI: A denúncia foi patrocinada por uma ONG de raiz estadunidense, o que é paradoxal, devido à autoridade e status oficial e público da ministra da Igualdade Racial
  • A falácia das “metodologias ativas”sala de aula 23/10/2024 Por MÁRCIO ALESSANDRO DE OLIVEIRA: A pedagogia moderna, que é totalitária, não questiona nada, e trata com desdém e crueldade quem a questiona. Por isso mesmo deve ser combatida
  • O veto à Venezuela nos BRICSMÁQUINAS FOTOGRÁFICAS 19/11/2024 Por GIOVANNI MESQUITA: Qual seria o maior desaforo ao imperialismo, colocar a Venezuela nos BRICS ou criar os BRICS?
  • Balanço da esquerda no final de 2024Renato Janine Ribeiro 19/11/2024 Por RENATO JANINE RIBEIRO: A realidade impõe desde já entender que o campo da esquerda, especialmente o PT, não tem alternativa a não ser o nome de Luiz Inácio Lula da Silva para 2026
  • Donald Trump e o sistema mundialJosé Luís Fiori 21/11/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: Se houver um acordo de paz na Ucrânia, o mais provável é que ele seja ponto de partida de uma nova corrida armamentista dentro da própria Europa e entre os EUA e a Rússia
  • Notas sobre a disputa em São Paulogilberto maringoni 18/11/2024 Por GILBERTO MARINGONI: É preciso recuperar a rebeldia da esquerda. Se alguém chegasse de Marte e fosse acompanhar um debate de TV, seria difícil dizer quem seria o candidato de esquerda, ou de oposição

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES