Por ELEUTÉRIO F. S. PRADO*
Resposta ao comentário crítico de Gilson Schwartz.
O autor desta nota escreveu um comentário crítico – publicado no site A Terra é Redonda, em 21/04/21 – ao livro de Mariana Mazzucato, O valor de tudo – produção e apropriação na economia global, postado sob o título O valor de tudo. Ele não foi bem acolhido por Gilson Schwartz que, por isso, endereçou-lhe uma crítica severa, também publicada A Terra é Redonda no dia 27/04/21, sob o título O valor de Mazzucato.
O seu objetivo consistiu em fazer uma “defesa da economista, a partir da crítica de Eleutério Prado”. Ora, quem lê o seu artigo poderá notar que ele não adianta nenhum argumento teórico em favor da tese defendida pela economista italiana. Também pelas várias imprecisões do seu texto, parece que realmente não se deu ao trabalho de ler o livro dessa autora que, como se sabe, tem expressão internacional. Diferentemente, o seu texto se dedica exclusivamente a desqualificar “a crítica de Eleutério Prado” a partir dela mesmo.
Nessa crítica, Schwartz acusa o adversário escolhido de “fazer uma crítica que se aplica ao seu autor” e não aos seus argumentos. Ora, isso é falso. Não há no artigo deste adversário qualquer argumento ad hominem endereçado à economista Mazzucato, tal como poderá verificar quem tiver a paciência de lê-lo. A sua argumentação é respeitosa; busca ficar estritamente no plano da lógica. Se tiver a paciência adicional de ler o artigo de Schwartz, poderá ver também que ele está construído em seu todo como uma crítica ad hominem a Eleutério Prado.
Segundo ele, “Prado situa o pensamento de Mazzucato na vertente norte-americana da ideologia francesa”. Isso é falso, pois a nota diz simplesmente que ela se situa no campo do pós-modernismo porque trata explicitamente a questão do valor em economia como uma questão de narrativa. Para Prado, ademais, segundo ele, “o livro O valor de tudo volta-se para um mito moderno: a criação de valor na economia”. Ora, quem diz isso é a própria Mazzucato e não o seu comentador.
Segundo ele ainda, “a opção “científica” oferecida por Prado é a teoria do valor-trabalho”. Ora, isso também é falso já que esse tema não está abordado na nota. Esta última diz apenas que Mazzucato, ao invés de identificar valor com valor de uso deveria encontrar uma explicação discutindo o valor de troca tal como Smith, mas também – acrescenta-se – Ricardo, Marx, Marshall, Walras, Jevons, Keynes etc. Ademais, a nota não ataca o “reformismo heterodoxo” nem diz que “sem revolução, não há solução”, como afirma.
Agora, a nota deste adversário afirma, sim – e prova logicamente –, que o trabalho teórico de Mazzucato não sustenta “uma práxis crítica não apenas reprodutora do existente, mas verdadeiramente transformadora”. Diz, sim, que não sustenta a própria tese defendida pela economista italiana, a saber, que o Estado é crucial na acumulação capitalista (tese com que este notário concorda), e que ele, por meio de parcerias público-privadas, deve passar a liderar o desenvolvimento nos países capitalistas avançados (rumo que este otário – tal como ele foi criado por seu acusador – discorda já que defende o socialismo democrático e não endossa nenhuma forma de socialismo autoritário).
Quem conhece Gilson Schwartz sabe que ele se considera como um grande intelectual, alguém que sempre traz à público grandes ideias inovadoras. Em sua própria crítica a Prado, ele se perfila ao lado de Marcos Muller, Roberto Schwarz, Gerard Lebrun e Paulo Arantes. Grandes parcerias! O grande crítico, com perdão pelo exagero, emparelhou-se com gigantes!
Nesse ponto sobretudo, o autor desta nota difere dele, pois conhece o seu lugar como um mero economista insatisfeito que optou pela senda difícil da crítica economia política. Declara, por fim, que sente certa vergonha por participar de uma polêmica inútil. Se Schwartz tivesse defendido teoricamente a tese de Mazzucato como deveria ter feito, a polêmica poderia ter sido informativa para os leitores de A terra é redonda. Mas ele teria de ler o livro dessa autora primeiro.
*Eleutério F. S. Prado é professor titular e sênior do Departamento de Economia da USP. Autor, entre outros livros, de Complexidade e práxis (Plêiade).