Benjamin Netanyahu e a extrema direita global

Imagem: Sera Cocora
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Por JORGE BRANCO*

Uma vitória eleitoral ou mesmo um ciclo de governos progressistas, não são suficientes, ainda que sejam importantíssimos, para derrotar a extrema direita global

O governo de Benjamin Netanyahu é hoje a maior referência política para a extrema direita global, cumprindo um papel de reorganizá-la. As derrotas eleitorais de Donald Trump e Jair Bolsonaro foram derrotas parciais para a extrema direita mundial, mas insuficientes para inabilitá-la definitivamente. A ofensiva militar do governo de Benjamin Netanyahu sobre a população e o território palestinos deu forma a uma política que alinhou diversas correntes de extrema direita pelo mundo.

Política é também contexto. Desde seu primeiro governo em 1996, na esteira da crise política que atingiu Israel após o assassinato de Yitzhak Rabin – primeiro-ministro que comandou os acordos de cessar-fogo entre judeus e palestinos nos anos 1990 –, Benjamin Netanyahu se constituiu como o líder das facções que negam a coexistência de dois Estados na região. E também de qualquer concessão por parte de Israel a fim de materializar algum pacto de paz, tal como o Acordo de Oslo, seu grande alvo no primeiro governo.

A crise política global de 2010 para cá, deu à Benjamin Netanyahu o ambiente, as condições políticas, para uma radicalização de sua política de extrema direita. Com a eleição de 2022, Benjamin Netanyahu chegou a seu sexto governo. Neste governo as políticas de segregação social e étnica contra o povo árabe avançaram solidificando sua política colonial sobre os territórios palestinos, inclusive sobre a Cisjordânia e não somente sobre Gaza. Israel caminha, pelas mãos da extrema direita, para afirmar-se como um Estado étnico-religioso e não como um Estado nacional e democrático.

Acusado de corrupção e liderando um governo de frente de extrema direita, composto por partidos sionistas radicais, partidos religiosos fundamentalistas e ampliando a força dos militares e das polícias, Netanyahu consolidou leis de discriminação étnica, políticas de anexação territorial e propostas desdemocratizantes. Se de um lado tem sido muito criticado e vem sofrendo a resistência da oposição democrática israelense e de organizações de defesa dos direitos humanos – que o caracterizam como um governo de apartheid social – de outro se transformou em referência das organizações e partidos de extrema direita pelo mundo.

No Brasil, por exemplo, após a derrota eleitoral para Lula no final de 2022 e a debelação da tentativa de golpe de Estado em janeiro de 2023, a extrema direita, liderada pelo bolsonarismo, reencontrou um ponto de unidade na defesa da política colonialista e religiosa de Benjamin Netanyahu. A ideia, ainda que difusa, de um Estado religioso, militarista, com eliminação de direitos sociais e que combata as premissas dos direitos humanos, funcionou com um toque de corneta para a remobilização de sua base social, conservadora e suscetível aos esquemas operativos das redes sociais bolsonaristas.

O provocativo encontro do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, com parlamentares de extrema direita e com o ex-presidente Jair Bolsonaro, demonstra que o governo israelense está, objetivamente, disposto a se relacionar com a extrema direita mundial e ultrapassar os limites diplomáticos das relações entre estados. Este mesmo embaixador já havia atacado o PT, partido principal da coalização do governo Lula, em uma atitude incomum para representantes de Estados estrangeiros.

A ofensiva militar de Israel provocou, após várias derrotas políticas e eleitorais, uma reanimação da extrema direita mundial. No Brasil, Estados Unidos, Argentina, Portugal, Espanha e Alemanha, a extrema direita procura empreender um novo movimento ofensivo. A tentativa de lawfare contra o governo de centro–esquerda em Portugal, as candidaturas de Javier Milei e Donald Trump, na Argentina e nos EUA respectivamente, a força da pressão da oposição de direita no Brasil e na Espanha, o ativismo e representatividade do neofascismo na Alemanha, se juntam aos governos da Hungria, Polônia e Itália em uma frente ultrarreacionária.

Uma vitória eleitoral ou mesmo um ciclo de governos progressistas, não são suficientes, ainda que sejam importantíssimos, para derrotar a extrema direita global. É a crise econômica global e a alta concentração de riqueza e poder em mãos dos super-ricos que alimentam essa conjuntura de ódio e escassez, ambiente propício ao ativismo da extrema direita. A disputa de valores, o que passa por denunciar a extrema direita pelo que é e pelo que faz sem rodeios ou tergiversações, é decisivo para um confronto sobre a continuidade das conquistas sócias das últimas décadas.

*Jorge Branco é doutorando em ciência política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).


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