Por BENICIO VIERO SCHMIDT*
Comentário sobre acontecimentos recentes
Um problema sério para o Brasil e para as gerações futuras – de dimensões trágicas – é a intensidade do desmatamento, do desflorestamento e de outros desastres ambientais tanto na Amazônia como no Pantanal. Durante a semana, o Pantanal deverá ser beneficiado pelas chuvas que começam a cair na região Centro-oeste. Mesmo assim, o que acontece lá é um grande desastre no qual foram dizimados quatro milhões de metros quadrados de vegetação por uma seca e por uma série de incêndios provavelmente provocados por interessados na grilagem de terra e na extensão de pecuária e da soja.
De outro lado, cabe destacar o documento, assinado por organizações internacionais, ONGs e alguns bancos brasileiros, encaminhado ao governo solicitando providências imediatas em relação aos desastres ambientais que estão acontecendo no Pantanal e na Amazônia. Justificam a exigência pela necessidade de garantir o atual patamar de acesso das exportações do agronegócio brasileiro ao mercado consumidor externo. Pela primeira vez na história, ONGs e empresas de grande porte, como a Klabin, por exemplo, firmam um documento em conjunto.
As primeiras pesquisas de opinião acerca das eleições municipais apontam para uma disputa acirrada, especialmente em São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e provavelmente Belo Horizonte, ainda que nesta última o atual prefeito, candidato à reeleição conte com o apoio da maioria do eleitorado (54%). Nessa etapa inicial das campanhas duas coisas chamam a atenção: (a) as tentativas, feitas por quase todos os candidatos, de nacionalizar o pleito e (b) a ausência de protagonismo do PT, um partido de grande porte que conta com a maior bancada da Câmara de Deputados e com candidatos próprios ou coligados em praticamente todas as capitais brasileiras.
No dia 22 de setembro teremos a abertura da Assembleia Internacional das Nações Unidas, como sempre, com o discurso inaugural do presidente do Brasil. Seguindo a rota de seu negacionismo clássico provavelmente o presidente dirá inverdades, citando fatos não comprovados como o alegado sucesso econômico do Brasil (enquanto o país passa por uma queda record da atividade econômica). Deve dizer ainda que há apenas alguns focos esparsos de queimadas no Pantanal e na Amazônia, o que nada contribuirá para reduzir a imagem negativa do país no exterior.
Por último, os cortes orçamentários. Com a paralisia parcial do Congresso em função das dificuldades decorrentes da pandemia, assistimos a um acúmulo de cortes incisivos seja nas políticas de proteção à mulher, nas políticas de proteção do meio-ambiente ou nas políticas de fiscalização do trabalho. Tais cortes buscam transferir receitas para a criação de um programa nos moldes do anunciado Renda Brasil, numa estratégia diferente da defendida há poucos dias pelo Secretário da Fazenda do Ministério da Economia.
Esses cortes tornaram evidente a paralisia na execução de políticas governamentais, mesmo com a existência de recursos para tal. O grau de utilização dos recursos disponíveis tem sido muito baixos, em especial na educação – como reconheceu o atual ministro –, nos programas de proteção às mulheres, nas políticas ambientais e assim por diante.
*Benicio Viero Schmidt é professor aposentado de sociologia na UnB. Autor, entre outros livros, de O Estado e a política urbana no Brasil (LP&M).