Os intelectuais sob o anti-intelectualismo

Imagem: Janko Ferlic
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por LUIZ MARQUES*

O anti-intelectualismo é a ponte estaiada no neofascismo e no neoliberalismo para a barbárie. Os intelectuais são membros da resistência ao irracionalismo redivivo

No mundo árabo-islâmico, observa Edward W. Said em Humanismo e Crítica Democrática (Companhia das Letras), são usadas duas palavras para intelectual: muthaqqaf e mukafir, a primeira derivada de thaqafa ou cultura (daí, homem de cultura), a segunda de fikr ou pensamento (daí, homem de pensamento). Confrontados com a falta de confiabilidade de governos autoritários, que utilizavam a censura para bloquear a circulação do debate sobre o bem comum, os intelectuais eram vistos como mais dignos de confiança no Oriente Médio.

No início do século XX, a legitimidade para arguir as injustiças foi confirmada na ruidosa intervenção de Émile Zola (J’Accuse, 1898) no caso Dreyfus. A tomada de consciência nas letras reforçou a ideia do escritor-intelectual como guia para atravessar os tempos confusos, na condição de porta-voz de um partido político (Rosa Luxemburgo) ou classe social (Hobsbawm). Na história francófona, o vocábulo intellectuel manteve acesa a referência à participação constante na esfera pública, com maîtres penseurs (Simone de Beauvoir, Aron).

Na Itália, a noção de engajamento ecoou na elaboração de Antônio Gramsci, legada pelos Quaderni del Carcere (1926-1937), acercados intellettuali “orgânicos” (ligados às classes ascendentes) e “tradicionais” (ligados às classes em declínio). Significa dizer que em algum momento qualquer intelectual vivenciou uma organicidade de classe. A concepção impactou, pelo uso e quiçá pelo abuso caricatural, o hemisfério ocidental. O tema sempre foi sedutor.

Nos Estados Unidos, os intelectuais – que tecem visões sobre os rumos da sociedade e do Estado – jamais tiveram um tal reconhecimento. A especialização deixou-os à margem, à diferença de outras latitudes. Os assuntos de governo e a influência das megacorporações nos veículos midiáticos agiram como diques, quase intransponíveis pela intelligentsia: a) por distar das questões concretas da sutil política institucional e; b) pela restrição econômico-mercadológica exercida sobre a mídia. Judith Butler e Chomsky são brilhantes exceções.

No Brasil, encartes culturais em muitos jornais e revistas sensíveis às reflexões políticas e psicanalíticas (Marilena Chaui, Contardo Caligaris) sobre pautas de urgência acompanharam o processo de redemocratização pós-1985. Os cronistas (Sueli Carneiro, Luís Fernando Veríssimo) serviram de respiradouros às subjetividades forjadas na ditadura e reconfiguradas no laissez-faire, tanto moral na esteira do Maio de 1968, quanto merticantilista na esteira neoliberal. A criatividade driblou o marasmo, trouxe para as arquibancadas o identitarismo.

Na contramão, intelectuais conservadores (Olavo de Carvalho, Roger Scruton) apoiados em fake News aumentaram a audiência nos púlpitos verde-amarelos da imprensa. Os interesses gananciosos do capital financeiro / rentista, aos quais aquela está associada, deram o tom. O fortalecimento dos velhos alicerces do capitalismo, o colonialismo (racismo) e o patriarcado (sexismo), renovaram a náusea. A direita saía do armário em que se confinara com o desgaste herdado do período inaugurado com o golpe de 1964. Encontrara a causa do livre-mercado.

A reciprocidade entre os meios e os fins

O discurso hegemônico do pensée unique, condensado numa dezena de pontos no Consenso de Washington, revestiu-se da “autoridade da ciência” para a compreensão da função estatal e das distintas dimensões da sociabilidade. “Recebemos lições intermináveis de especialistas credenciados que nos explicavam que a liberdade exige desregulamentação, privatização ou guerra, e que a nova ordem mundial é nada menos que o fim da história”, satiriza E. W. Said. Nas páginas da Folha de São Paulo, Alain Touraine atribuía a Fernando Henrique Cardoso o início do “ciclo virtuoso” que colocara o país na direção… do complexo de vira-lata. O crivo que reduz a democracia à “eficácia administrativa” e à “normalização das regras do jogo” bastou-lhe para o juízo. Soava infantil recordar a resiliência diante do “rumor de botas”.

Porém, as políticas aplicadas não entregaram o que prometeram (geração de empregos, desenvolvimento econômico, crescimento do Produto Interno Bruto / PIB e do Produto Interno de Felicidade / PIF) nos países que transformaram o receituário da financerização nos icônicos mandamentos do deus-mercado, a cultura e o pensamento sofreram um desprestígio. Saíram caro as mentiras dos falsos messias (Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional / FMI). Eram apenas pelotões encarregados do extermínio de direitos sociais e trabalhistas, por governos que – vergonhosamente – abdicavam da governabilidade e do bem-estar social. Os dogmas da religião monetarista escondiam a opção ideológica pelos ricos (com offshores).

A arrogância tecnocrática da Escola de Chicago acelerou a suspeição contra o saber. Mas nos noticiários locais a soberba ainda se reproduz, ao injuriar os que revelam a face oculta (antissocial) da austeridade fiscal por querer “furar o teto de gastos”. O jornalismo vil sob patrocínio dos bancos padroniza pareceres que os repórteres papagueiam sem questionar.

O prestígio em queda da intelectualidade se acentuou com os autores pós-modernos, que trataram como simples “narrativas” as falas científicas, estéticas, de gênero, raça. Ao invés da classificação em analíticas ou propositivas, relativizaram as assertivas. Na peste pandêmica, o negacionismo de lesa-humanidade explorou a sintomática derrisão do conceito de verdade, para desautorizar as recomendações sanitárias da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Neste contexto, ruiu a credibilidade da comunidade argumentativa. Seu poder na “produção coletiva de utopias realistas”, na expressão de Pierre Bourdieu, com pesquisas e conceitos para interpelar e superar o senso comum perdeu a potência. As teorizações foram eclipsadas da sociedade. O trabalho das abstrações foi carimbado de subversivo, apátrida. As disciplinas de sociologia e filosofia foram atacadas como seres extraterrestres no currículo do Segundo Grau. Professoras e professores, socraticamente, acusados de corromper (sic) a juventude. Como nos versos de Martin Fierro: “Vamos dentrando recién / a la parte más sentida”.

O Ministério de Ciência e Tecnologia teve um absurdo corte de 90% no orçamento. Verbas para os bolsistas em nível de mestrado e doutorado foram para o ralo. Houve uma evasão de cérebros para o exterior, pelo abandono caótico a que foram condenados os pesquisadores, depois da árdua trajetória de estudos a serviço do conhecimento, da ciência, das artes. A devastação da Amazônia atingiu recordes. O desrespeito ao território dos povos originários, com ameaças e assassinatos, estamparam o horror. Crianças acabaram sugadas pelas dragas de garimpeiros, ao se banhar nos rios de seus avós. Assistiu-se ao enriquecimento de 1% vs o empobrecimento de 99% da população, na metáfora criada no Occupy Wall Street. O país voltou ao mapa da fome da Organização das Nações Unidas (ONU). Enfraqueceu-se o papel do intelectual de discernir os elementos dialéticos de situações políticas conflituosas.

Esfumou-se o guardião dos acontecimentos fugados de modo artificial da memória oficial, os “desaparecimentos” sob as ditaduras militares na América Latina, a estratégia genocida de “imunidade de rebanho” pela disseminação do vírus na pandemia, o número de óbitos da Covid-19, o alinhamento automático aos Estados Unidos, a crescente desindustrialização. Volatizou-se a construção dos pilares da igualdade, os programas sociais, o projeto nacional-desenvolvimentista (com inserção ativa da cidadania), o resguardo das empresas da sanha privatista. O pesadelo dos zumbis espraiou-se na noite dos “irmãos da rua” daquele padre. Ossos que eram distribuídos aos cachorros, agora são vendidos para miseráveis que fazem fila na porta dos açougues. Arruinou-se a paz social e a coexistência da biodiversidade. “E daí? Não sou coveiro? Vão chorar até quando? Chega de mimimi”, ouve-se no cercadinho.

O anti-intelectualismo presente no bolsonarismo et caterva além-mar (Hungria, Polônia, Índia) é uma reação revanchista ao protagonismo dos intelectuais “políticos” (organizados e engajados na luta de classes) e “puros” (desorganizados, mas partícipes em petições). Reação que mira a desumanização líquida e o desmonte dos locais de ensino, tendo clubes de tiro e jagunços da polícia militar na retaguarda. O Tradicionalismo não suporta a Modernidade.

Deixava-se para trás a clássica oposição entre os indivíduos envolvidos com problemas práticos e os indivíduos que orbitam as ideias radicais, com gosto por revoltas. Como se as ideias não dessem frutos ao amadurecer. As lutas contra a escravidão, as conquistas das mulheres, dos negros, dos indígenas, dos gays, dos jovens, a exemplo lá atrás do novo sindicalismo e do erguimento de um partido político de “baixo para cima”, não ocorreram num passe de mágica. Para mudar e aperfeiçoar o mundo é necessário antes compreendê-lo.

Os meios (homo faber) e os fins (homo sapiens) estão imbricados. Os valores incrustados na finalidade não podem ser negados por métodos aéticos, com teor político contraditório e errático. Há aí reciprocidade. A suspensão da antiga bipolaridade, com o cancelamento do sujeito portador da imaginação transformadora em um dos polos, pôs termo à interlocução. Desceu a pesada cortina do autoritarismo no palco. A fascistização do debate público faz tábua rasa das nuances, dos pontos de vista. Aborda com simplificações o que é complexo.

De novo, as memórias do esquecimento

O exílio da coerência motivou a saída de Paul Nizan do Partido Comunista Francês (PCF), frente à chocante aliança germano-soviética (1939), que Stalin justificou com alegações “táticas” para melhor preparação do enfrentamento iminente. Desolado, Nizan anotou: “A única honra que nos resta é a do intelecto”. Alianças em prol do fazer sem consideração pelo pensar suscitam sentimentos depressivos e deserções no campo de batalhas, ainda hoje.

Para o sociólogo Sérgio Abranches, o dilema prenunciou-se em 1988 pelo “presidencialismo de coalizão” na arquitetura da institucionalidade, que introduziu a figura da Presidência no arcabouço parlamentarista da Constituição Federal. A moldura “cidadã” propiciou as ações abstrusas que, no teatro político-parlamentar, celebram pactos indigestos à metabolização.

O assombro ressuscitou entre os ilustres deputados Glauber Braga, Fernanda Melchionna et alli, do Partido do Socialismo e Liberdade (PSOL) e Marcelo Freixo, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), contrários à Proposta de Emenda Constitucional (PEC / n° 5). A plêiade atendeu anseios indecorosos de procuradores corruptos e juízes facciosos, e passou a ganhar elogios da banda podre do punitivismo, em entrevistas. A votação fechou os olhos às mile uma ilegalidades da operação Lava Jato e à dinâmica persecutória com objetivos políticos contra a esquerda, eximindo o Ministério Público (MP) de um controle público coerente.

O MP ainda espera um julgamento justo. Os comensais também. Embora os políticos em tela não pertençam à categoria da intelecção, o que não é defeito e tampouco virtude, teria sido prudente tomar caldo de galinha e seguir a máxima: “La primera tarea de los intelectuales debería ser la de impedir que el monopolio de la fuerza se convierta en el monopolio de la verdad.” E prestar atenção no sinal vermelho. “La tarea del intelectual es agitar ideas, resaltar problemas, elaborar programas o solamente teorías generales; la tarea del político es tomar decisiones”. In: Norberto Bobbio: el Filósofo y la Política – Antología (Ed. FCE).

Dois tipos de erros rondam as deliberações no Parlamento, os conjunturais e os que incidem na história. Uns se autocorrigem no andar da carroça. Outros correm o risco de quebrar o eixo da carreta. A essa altura ninguém duvida da natureza do equívoco cometido. Mesmo com o desconto das infecciosas razões de praticidade, ignoradas pela teoria, é inaceitável a escolha promovida pelos responsáveis por estabelecer linhas de ação à defesa da justiça contra a discricionaridade. Parafraseando: “A única honra que nos resta é o desencanto”.

Os intelectuais atuam em uma seara peculiar com relativa autonomia dos condicionamentos socio-econômicos e históricos – a cultura. Lugar onde orientações e aberrações ideopolíticas (Mário Frias, Sérgio Camargo) não vingariam se a sociedade tivesse ajustado contas com os “anos de chumbo”. Sequer viria à tona o plágio dos estratagemas de Joseph Goebbels que formataram a tragédia nazifascista. No niilismo que cobre de escuridão a extrema-direita, e setores à gauche, é impossível distinguir a estrela polar para guiar a embarcação republicana. Mas é possível afirmar que a miliciana carta de navegação do ódio bolsonarista conduz à servidão, enquanto a bússola do socialismo democrático antecipa a libertação dos corpos e das almas, e leva o barco da sensatez ao porto dos libertos da opressão: le temps des cerises.

A resistência ao irracionalismo redivivo

Contudo, frise-se o alerta: a “dialética das durações” mostra que a grande onda da história contemporânea não se encerrou com o tribunal de Nuremberg. O ovo da serpente continua produzindo répteis. Trata-se de um fenômeno cujos pressupostos sobreviveram intactos. O sentimento de perdedores resultante da ideologia meritocrática não esmoreceu. Cresceu. O exército industrial de reserva foi substituído pela multidão de ressentidos com a modificação de seu estatuto no âmbito da família, na relação com a esposa e os filhos e a sexualidade.

A experiência do socialismo burocrático / totalitário causou decepções. O “socialismo real”, como apontou a crítica de Rudolf Bahro, rasgou o princípio assinado por Marx e Engels de que “a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores” (Manifesto de 1848). A asfixia dos sovietes na ex-URSS foi consequência. A terra de Canaã precisa ser reinventada, a partir da democratização da democracia e não de sua negação, curta e grossa.

A materialização completa da democracia, com instituições para garantir que os órgãos de representação não usurpem os direitos individuais e coletivos, coincide com o socialismo. A consecução plena do socialismo, com a propriedade social articulada a uma superestrutura oxigenada, coincide com a democracia. Na ausência do par socialismo / democracia, a vida social desmorona “en el cansancio histórico y en la utopía pervertida”, escreve Leonardo Padura nos últimos parágrafos de El Hombre que Amaba a los Perros (Ed. Max Tusquets).

A democracia participativa não é mero acessório do pensamento mudancista, a fria vingança da cultura romântica em face dos desvios do regime de representantes, tornado refém do dinheiro. Ou um capricho de quem sente saudades do rousseuanismo. É a garantia de que a soberania democrático-popular não será sequestrada, conforme o foi no socialismo real e, o é, no capitalismo realmente existente. Há que reatualizar pela práxis política as revolucionárias bandeiras da liberdade, igualdade e solidariedade. E lutar nos fronts avançados (escolas, universidades, centros de formação acadêmica, casamatas da opinião pública) para conter a destruição dos valores de sustentação da civilização moderna e do equilíbrio ecológico.

O anti-intelectualismo é a ponte estaiada no neofascismo e no neoliberalismo para a barbárie. Os intelectuais são membros da resistência ao irracionalismo redivivo. Evocam a admirável coragem da brava Dolores Ibárruri (La Pasionaria) para salvar a República durante a Guerra Civil na Espanha, na década de 1930, ao converterem slogan a exclamação: “No pasarán!”. Finda a batalha de Madrid, o generalíssimo Francisco Franco debochou: “Hemos pasado!”. Pouco importa que nem sempre tenhamos vencido, importa que tenhamos estado do lado certo. Eis o compromisso geracional incontornável, ditado pelo imperativo categórico.

*Luiz Marques é professor de ciência política na UFRGS. Foi secretário estadual de cultura do Rio Grande do Sul no governo Olívio Dutra.

 

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • A colonização da filosofiamar estacas 14/11/2024 Por ÉRICO ANDRADE: A filosofia que não reconhece o terreno onde pisa corrobora o alcance colonial dos seus conceitos
  • A massificação do audiovisualcinema central 11/11/2024 Por MICHEL GOULART DA SILVA: O cinema é uma arte que possui uma base industrial, cujo desenvolvimento de produção e distribuição associa-se à dinâmica econômica internacional e sua expansão por meio das relações capitalistas
  • O entretenimento como religiãomóveis antigos máquina de escrever televisão 18/11/2024 Por EUGÊNIO BUCCI: Quando fala a língua do rádio, da TV ou da Internet, uma agremiação mística se converte à cosmogonia barata do rádio, da televisão e da internet
  • Ainda estou aqui — habeas corpus de Rubens Paivacultura ainda estou aqui 2 12/11/2024 Por RICARDO EVANDRO S. MARTINS: Comentário sobre o filme dirigido por Walter Salles
  • Os concursos na USPMúsica Arquitetura 17/11/2024 Por LINCOLN SECCO: A judicialização de concursos públicos de docentes na USP não é uma novidade, mas tende a crescer por uma série de razões que deveriam preocupar a comunidade universitária
  • A execução extrajudicial de Sílvio Almeidaqueima de livros 11/11/2024 Por MÁRIO MAESTRI: A denúncia foi patrocinada por uma ONG de raiz estadunidense, o que é paradoxal, devido à autoridade e status oficial e público da ministra da Igualdade Racial
  • O porto de Chancayporto de chankay 14/11/2024 Por ZHOU QING: Quanto maior o ritmo das relações econômicas e comerciais da China com a América Latina e quanto maior a escala dos projetos dessas relações, maiores as preocupações e a vigilância dos EUA
  • A falácia das “metodologias ativas”sala de aula 23/10/2024 Por MÁRCIO ALESSANDRO DE OLIVEIRA: A pedagogia moderna, que é totalitária, não questiona nada, e trata com desdém e crueldade quem a questiona. Por isso mesmo deve ser combatida
  • Ainda estou aquicultura ainda estou aqui 09/11/2024 Por ERIK CHICONELLI GOMES: Comentário sobre o filme dirigido por Walter Salles
  • Antonio Candido, anotações subliminaresantonio candido 16/11/2024 Por VINÍCIUS MADUREIRA MAIA: Comentários sobre os mais de setenta cadernos de notas feitos por Antonio Candido

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES