Polarizações

Sir Sidney Nolan, Capacete blindado, 1956
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Por FLAVIO AGUIAR*

Poema sobre a eleição presidencial

A eleição está polarizada,
Dizem as manchetes tremulinas.
“Não gosto”, dizem as almas tremulentas.
Mas o que fazer?, como dizia o Vladimir.
A eleição está de fato polarizada
Entre falar ou cuspir.
De um lado, vemos livros
E rubras toalhas esvoaçantes
Entre um arco-íris de variadas cores.
Do outro, voa bala e até granada.
Aqui, os dedos em L se alevantam
Com estrelas de esperança.
Lá, há dedos nos gatilhos
E garras doidas empunham facas afiadas,
Finas assassinas.
Deste lado, reúnem-se os que prezam
A cartilha da liberdade.
Do outro, os sacerdotes da venalidade
Recolhem o dízimo do ódio,
Semeiam caretas de ressentimento,
Profanam tudo o que tocam,
Fazem apodrecer tudo o que olham.
E seu Corifeu sempre apenas mente
Pois mentir é tudo o que tem na mente
Demente.
Um Líder fala para o horizonte,
E tenta conjurar alguma luz
Na ponta do túnel que atravessamos.
Enquanto isto o Corifeu da Cloroquina
Vomita seu fel e seu pus
Sobre a cruz que diz defender
Mas que insulta a cada passo
No seu trespasso para o Inferno da sina
A que nos quer manietar.
A seu lado rolam os rios de dinheiro
Que seus asseclas sonegam a tudo o que se preze,
Sejam escolas, hospitais, alimentos,
Sejam palavras de solidariedade,
De compaixão ou de amor à vida,
Que ajudaram a assassinar no pandemônio
Da peste pandêmica que fizeram por semear.
Nesta orgia de insânia repetem, ainda por cima,
Que lhes pintou um clima
De prazer ao ver tanta gente sofrer.
Sim, a eleição está polarizada
E seja qual for seu resultado,
A vida continuará polarizada
Entre os que olham de frente para o futuro
E os que desejam a morte de todos
Os olhares que não rezem
Segundo seus esgares.

*Flávio Aguiar, jornalista e escritor, é professor aposentado de literatura brasileira na USP. Autor, entre outros livros, de Crônicas do mundo ao revés (Boitempo).

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