PT x PSL

Imagem: João Nitsche
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por HENRIQUE CURI & OTÁVIO Z. CATELANO*

O efeito das eleições presidenciais na disputa local

As eleições municipais tendem a colocar em evidência os partidos que disputaram a eleição presidencial anterior. Não por acaso, estuda-se o fenômeno da “presidencialização das disputas”, ou seja, avalia-se nas disputas de menor nível, como nos municípios, a importância dos principais partidos da corrida para a Presidência da República, especialmente os que foram adversários no segundo turno.

A fim de pensarmos a construção dos dois partidos mais fortes eleitoralmente em 2018, analisamos como se deram suas alianças até a disputa que os marcou. Avaliamos as coligações construídas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e pelo Partido Social Liberal (PSL) para concorrer às prefeituras brasileiras entre 2012 e 2020. Pelos dados, é possível observar que a disputa de 2018 é um divisor de águas nas estratégias traçadas pelas siglas.

O PT, para além de triplicar suas candidaturas solitárias entre 2016 e 2020 (de 213 candidaturas solitárias para 649), também diminuiu sua participação em coligações alheias. O partido opta por especial cuidado quando se leva em consideração o PSL. O inverso também ocorre, como é possível observar no Gráfico 1.

Gráfico 1. Porcentagem de candidaturas do PT e do PSL nas quais houve aliança entre os dois partidos

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

Os partidos que disputaram a presidência em 2018 demonstram, dois anos depois, a importância do pleito municipal para construção de suas trincheiras. A aparente indiferença entre os partidos nos anos anteriores teve um contraponto estratégico no ano de 2020. Em 2016, o PT admitia o PSL como parceiro de coligação em 9,5% de suas candidaturas; em 2020, este número caiu para 0,5%. O PSL, por sua vez, fez aliança com os petistas em 28,5% de suas candidaturas em 2016; em 2020, este número passou para 1%.

Os dados ainda são prematuros para quaisquer conclusões, mas já apontam um novo movimento nos sistemas partidários municipais em 2020. Ainda que não possa mais contar com aquele que antes era seu principal filiado, o presidente Jair Bolsonaro, o PSL emergiu como ator fundamental nas eleições deste ano – triplicando suas candidaturas enquanto cabeça de chapa apoiado por outros partidos (de 105 candidaturas para 349). Além do natural crescimento após êxito na eleição de maior importância no país, os dados demonstram que as coligações do PSL com o PT, ainda que existam, são raras.

Vale ressaltar que todos os municípios onde os dois partidos se aliaram possuem menos de 200 mil eleitores, ou seja, não têm possibilidade de segundo turno. São territórios de menor exposição nacional para as siglas, logo, de menor desgaste frente ao eleitorado.

A orientação mais criteriosa que ambos os partidos estabeleceram para as coligações entre si é importante para avaliarmos as pretensões das siglas frente ao eleitorado. Um alto número de alianças entre PT e PSL provavelmente seria alvo de críticas não apenas em 2020, mas com repercussões nos próximos pleitos. Nesse cenário hipotético de aproximação, não haveria vencedores. O afastamento, portanto, era a saída mais viável para o fortalecimento dos dois partidos enquanto líderes dos campos que se propõem a representar.

*Henrique Curi é doutorando em Ciência Política no IFCH-Unicamp.

*Otávio Z. Catelano é mestrando em Ciência Política no IFCH-Unicamp.

Publicado originalmente no Observatório das Eleições de 2020 [www.observatoriodaseleicoes.com.br] do NCT/IDDC (Instituto de Democracia e da Democratização da Comunicação).

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • A colonização da filosofiamar estacas 14/11/2024 Por ÉRICO ANDRADE: A filosofia que não reconhece o terreno onde pisa corrobora o alcance colonial dos seus conceitos
  • A massificação do audiovisualcinema central 11/11/2024 Por MICHEL GOULART DA SILVA: O cinema é uma arte que possui uma base industrial, cujo desenvolvimento de produção e distribuição associa-se à dinâmica econômica internacional e sua expansão por meio das relações capitalistas
  • O entretenimento como religiãomóveis antigos máquina de escrever televisão 18/11/2024 Por EUGÊNIO BUCCI: Quando fala a língua do rádio, da TV ou da Internet, uma agremiação mística se converte à cosmogonia barata do rádio, da televisão e da internet
  • Ainda estou aqui — habeas corpus de Rubens Paivacultura ainda estou aqui 2 12/11/2024 Por RICARDO EVANDRO S. MARTINS: Comentário sobre o filme dirigido por Walter Salles
  • Os concursos na USPMúsica Arquitetura 17/11/2024 Por LINCOLN SECCO: A judicialização de concursos públicos de docentes na USP não é uma novidade, mas tende a crescer por uma série de razões que deveriam preocupar a comunidade universitária
  • A execução extrajudicial de Sílvio Almeidaqueima de livros 11/11/2024 Por MÁRIO MAESTRI: A denúncia foi patrocinada por uma ONG de raiz estadunidense, o que é paradoxal, devido à autoridade e status oficial e público da ministra da Igualdade Racial
  • O porto de Chancayporto de chankay 14/11/2024 Por ZHOU QING: Quanto maior o ritmo das relações econômicas e comerciais da China com a América Latina e quanto maior a escala dos projetos dessas relações, maiores as preocupações e a vigilância dos EUA
  • A falácia das “metodologias ativas”sala de aula 23/10/2024 Por MÁRCIO ALESSANDRO DE OLIVEIRA: A pedagogia moderna, que é totalitária, não questiona nada, e trata com desdém e crueldade quem a questiona. Por isso mesmo deve ser combatida
  • Ainda estou aquicultura ainda estou aqui 09/11/2024 Por ERIK CHICONELLI GOMES: Comentário sobre o filme dirigido por Walter Salles
  • Antonio Candido, anotações subliminaresantonio candido 16/11/2024 Por VINÍCIUS MADUREIRA MAIA: Comentários sobre os mais de setenta cadernos de notas feitos por Antonio Candido

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES