Embargos econômicos

Ben Nicholson OM, 78 de novembro (paisagem estranha), 1978.
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Por SEGADAS VIANNA*

Aceitar a implantação de embargos econômicos e aliar-se a eles por mero alinhamento diplomático ou por conveniência econômica e política torna os países que o fazem em cúmplices deste crime.

As pessoas muitas vezes comentam, até de forma solidária ao atingido, sobre os embargos impostos a outros países, como os EUA faz há decádas com Cuba, sem terem a exata noção de que esses embargos além de afetarem a economia do país atingido tem consequências no dia a dia dos mais pobres agravando ainda mais sua situação.

Vivi durante oito meses em 1984 na Nicarágua, como jornalista e agente político da organização partidária a que eu pertencia. Com os sandinistas recém-saídos de uma vitória contra a ditadura somozista, agredidos no norte e no sul do país por movimentos armados financiados pela CIA, os EUA em retaliação impuseram um rigoroso embargo ao país.

Recebíamos cotas para compras em mercados. Cotas para as coisas mais básicas e simples, como papel higiênico, pasta dentifricia e sabonetes. Certas coisas necessárias para o dia a dia, em especial o meu que precisava utilizar um gravador (daqueles portáteis, de fitas cassete), como pilhas era quase impossível de se obter de forma regular. Eu, como boa parte da população de Managua e das outras cidades maiores da Nicarágua acabávamos empurrados para obter tais produtos nas feiras onde havia produtos, em pequena quantidade e a preços caros, e que para ativistas políticos como eu ainda criava uma crise de consciência, pois eu sabia que cada Peso gasto em um produto naquelas feiras, boa parte iria para a mão ou de criminosos ou de

contrarevolucionarios, o que dava no mesmo.

Medicamentos, peças para automóveis e veículos de carga, tudo ou quase tudo acabava entrando pelo mercado do contrabando e financiando indiretamente os inimigos da revolução sandinista. E muitas vezes, devido a repressão aos mercados ilegais, nada se encontrava.

Filas imensas no dia em que o papel higiênico chegava aos mercados regulares eram comuns de se ver, tirando da população boa parte de seu tempo útil.

Embargos são uma forma hipócrita de um país mostrar ao mundo que ” não está cometendo um ato de violência contra um povo e uma nação e sim uma medida econômica contra seus governantes “. Mentira. Embargo econômico contra um país pobre ou em desenvolvimento é um ato de agressão sim, ainda mais quando cometido por “razões ideológicas” ou de domínio geopolítico.

Aceitar a implantação de embargos econômicos e aliar-se a eles por mero alinhamento diplomático ou por conveniência econômica e política torna os países que o fazem em cúmplices deste crime. Embargos econômicos só podem ser aceitos em casos excepcionais, como com relação a Alemanha de Hitler que declarou guerra ao mundo e promoveu um dos maiores, senão o maior, genocídios da humanidade.

O Brasil de Lula nem se alinha nem se submete aos embargos dirigidos a Nicarágua, Irã e Rússia e está absolutamente certo ao fazê-lo, pois ainda há a outra face da moeda, quando o embargo não permite que você comercialize com o embargado criando uma crise econômica setorizada ou generalizada dentro do seu próprio país, tornando-se também uma vítima indireta do embargo.

Até hoje, pela maioria dos embargos promulgados seja pela ONU ou pela OTAN ou ainda unilateralmente o que nos parece é que embargos econômicos viraram arma de guerra dos EUA.

* Segadas Vianna é jornalista.

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