Israel — um Estado terrorista

Imagem: Mohammed Abubakr
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Por LUIS FELIPE MIGUEL*

A impotência da solidariedade ao povo palestino e libanês, a tolerância ao racismo sionista e a cumplicidade com o genocídio e com o expansionismo sionista são sintomas claros da falência moral da humanidade

1.

Quem lê a imprensa, fica “sabendo” que Israel está em guerra com o Hamas e agora entrou em guerra com o Hezbollah. Na verdade, Israel está há quase um ano promovendo uma operação de extermínio contra o povo palestino na Faixa de Gaza e agora, após promover uma série de atentados terroristas, iniciou uma guerra de agressão contra o Líbano.

Não existe guerra de um Estado contra uma organização qualquer, a não ser como metáfora. E o alvo não é essa organização quando a esmagadora maioria das vítimas é formada por civis — em grande parte, crianças.

Israel é a potência agressora no Oriente Médio, com uma política expansionista e racista, que nega direitos e o reconhecimento da humanidade de todos os árabes.

Essa política só resiste graças à cumplicidade ativa das potências ocidentais. Por uma mescla de interesse geopolítico e submissão ao lobby sionista, poderoso economicamente e nos meios de comunicação, os Estados Unidos e os maiores países da Europa Ocidental não apenas fecham os olhos para o que está acontecendo na Palestina e em toda a região, como protegem Israel nos fóruns internacionais, boicotam as medidas de solidariedade às vítimas e fornecem o material bélico para a matança de inocentes.

2.

Desde o início, o sionismo é um projeto colonial baseado numa forma de supremacismo racial. A pretensa “única democracia do Oriente Médio” nunca foi nada além de um regime policial e de segregação.

Sob Benjamin Netanyahu, Israel assume feições claramente fascistas. Veículos de comunicação são simplesmente fechados por determinação do governo, por apresentarem informações incômodas — imagino a grita dos “defensores da liberdade de imprensa” caso isso acontecesse em qualquer outro país.

São comuns as prisões arbitrárias, inclusive de adolescentes, sem que haja qualquer tipo de processo legal. Nas prisões, imperam torturas e abuso sexual.

Nada disso incomoda a boa consciência do Ocidente, certamente porque o racismo antiárabe, embora inconfessado, está cada vez mais normalizado na América do Norte e na Europa.

Mas Benjamin Netanyahu não conta com a cumplicidade apenas de seus colegas da extrema direita. As forças políticas liberais, que muitas vezes aparecem em seus países como alternativa ao avanço de gente próxima do neofascismo, também se alinham a Israel.

Basta ver os discursos de Kamala Harris, a candidata democrata à presidência dos Estados Unidos. Seu lamento protocolar pelas vidas inocentes ceifadas é o suficiente para que Donald Trump a acuse de ser pró-Palestina, mas o fato é que ela corteja o apoio dos sionistas e, quando chega na hora de anunciar políticas concretas, deixa claro que prosseguirá no caminho de Joe Biden, isto é, do financiamento do genocídio — e da guerra no Oriente Médio.

No Reino Unido, o Partido Trabalhista, no poder, continua vendendo armas para Israel (depois do anúncio hipócrita de que suspenderia a entrega de alguns poucos equipamentos) e “se absteve” na votação da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o fim da ocupação da Palestina. No congresso do partido, o uso da palavra “genocídio” foi proibido pela direção. A social-democracia alemã, igualmente no poder, atua para fazer do apoio a Israel um requisito para a cidadania (e também se absteve na ONU).

A impotência da solidariedade ao povo palestino e libanês, a tolerância ao racismo sionista e a cumplicidade com o genocídio e com o expansionismo sionista são sintomas claros da falência moral da humanidade.

*Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de Democracia na periferia capitalista: impasses do Brasil (Autêntica). [https://amzn.to/45NRwS2].

Publicado originalmente nas redes sociais do autor.


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