Por CARLOS EDUARDO BELLINI BORENSTEIN*
O ex-presidente consolida seu nome à esquerda e avança em direção ao centro em busca da construção de uma frente ampla
A fase da pré-campanha para a sucessão de outubro tem um favorito neste momento: o ex-presidente Lula (PT). Essa constatação pode ser observada não apenas pelas pesquisas de intenção de voto, mas, principalmente, quando analisamos aspectos da sucessão presidencial que vão além da frieza dos números das sondagens.
A disputa presidencial deste ano, ao contrário de 2018, terá a economia como a pauta central da eleição. Como consequência, a narrativa da antipolítica, que possibilitou a vitória de um candidato percebido como um outsider em 2018 – o hoje presidente Jair Bolsonaro – e a pauta anticorrupção perderam espaço na agenda.
Com a economia no centro do debate eleitoral, há dois aspectos que se conectam diretamente com a imagem de Lula: (1) os oito anos de governos Lula (2003-2010) foi o último período em que a economia do país cresceu e houve a ascensão social de um expressivo contingente da população; e (2) o histórico de vida e político do ex-presidente se conectam com os segmentos da classe trabalhadora que são a maioria da população e foram os mais penalizados socialmente com a retração do PIB e o aumento da inflação e do desemprego.
Importante destacar que o grande desafio do candidato em uma campanha é se conectar com as demandas prioritárias da agenda eleitoral que tornem sua candidatura atraente para a maioria do eleitorado, principalmente para o chamado “eleitor médio”, que é a parcela do mercado eleitoral que processa sua decisão de voto não apenas por motivos ideológicos, mas também por um conjunto de variáveis que impactam positiva ou negativa no seu dia a dia.
Hoje, quem consegue se conectar com esse eleitorado é Lula. Mais do que isso, seus principais adversários devem ter dificuldades de conseguir essa conexão, salvo a ocorrência de um fato novo.
Jair Bolsonaro, por exemplo, é o candidato de um governo mal avaliado. Tem uma base conservadora consolidada no campo da extrema-direita, mas está cada vez mais distante do centro. Sergio Moro (Podemos) possui a narrativa do lavajatismo, que ainda seduz uma parcela dos eleitores de maior renda dos grandes centros urbanos que rompeu com o bolsonarismo, mas sua narrativa lembra muito 2018.
João Doria (PSDB) conta com a máquina de São Paulo na mão, porém tem uma agenda essencialmente fiscalista. Seu programa lembra muito a “Ponte para o Futuro” do governo Michel Temer (MDB).
E Ciro Gomes (PDT), embora tenha uma narrativa simpática a alguns segmentos do campo progressista, tem o desafio de se reposicionar e atrair o voto de centro, o que é improvável que aconteça por conta da pulverização de candidaturas da chamada terceira via e pelas resistências que o nome de Ciro possui junto ao eleitor mais conservador.
Neste cenário, Lula vem conseguindo hegemonizar o voto de esquerda/centro-esquerda, além de esboçar movimentos em direção ao centro. Embora ainda haja questões a serem equacionadas, a federação unindo PT, PSB, PCdoB e PV deve se viabilizar e isolar Ciro e o PDT. Aliás, há setores no PDT que internamente defendem uma composição com Lula já no primeiro turno. O mesmo ocorre com o PSOL, outro partido importante do campo progressista.
Além de consolidar seu nome à esquerda, Lula avança em direção ao centro democrático em busca da construção de uma frente ampla contra o bolsonarismo. Além da provável indicação do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (Sem partido) com seu vice, Lula estreita o diálogo com o chamado “PSDB da Constituinte”.
Após encontros com o ex-presidente FHC, o senador Tasso Jereissati, e o ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira, além de citar o senador José Serra e lembrar do falecido ex-governador Mario Covas, o ex-presidente também tem dialogado com o PSD de Gilberto Kassab e setores do MDB, principalmente da região Nordeste.
*Carlos Eduardo Bellini Borenstein é graduado em ciência política pela ULBRA-RS.