A contribuição das Ciências Humanas e das Humanidades para o desenvolvimento do Brasil

Imagem: Caroline Cagnin
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por RENATO JANINE RIBEIRO & FERNANDA ANTONIA SOBRAL*

Propostas para o ciclo de debates organizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)

Os temas específicos das ciências humanas, e em certa medida também das Humanidades, têm dominado boa parte da cena política, com as propostas de inclusão social e de combate às desigualdades e injustiças. Por isso mesmo, é preciso fincar a importância da pesquisa nessas áreas, que é justamente o que pode dar base às próprias políticas que muitos em nossa sociedade têm considerado prioritárias em nosso tempo. Como bem afirmou Max Weber em suas conferências seminais sobre a vocação do cientista e a do político, trata-se de missões até complementares, mas diferentes. O foco desta Conferência, portanto, estará em questões cruciais para o momentum que vivemos, que precisam ser abordadas de forma científica.

Por ciências humanas (e sociais), entendemos aquele conhecimento científico – que, portanto, segue critérios de cientificidade próximos aos das demais ciências, talvez antes de mais nada o da “falseabilidade” de Karl Popper – que avança rumo a algo que chamamos de verdade. Essa verdade, está claro, não é dogmática nem definitiva; está sempre em sursis, em progresso.

Por humanidades, entendemos aquelas áreas de conhecimento rigoroso, como a literatura, a arte e a filosofia, que se distinguem por (i) não buscarem a verdade, (ii) não conhecerem a ideia de progresso. Nelas, como diz Jorge Luis Borges num conto, não se fala sobre o mundo: agrega-se algo a ele. A ideia de obra, de criação, é essencial aqui. Mas é evidente que essas obras, filosóficas, artísticas ou literárias, dialogam com os seres humanos.

A primeira mesa tratará da destruição do laço social, ocorrida nos últimos anos mundo afora, indagando o que a causou (um panorama da sociedade em conflito quase letal), o que a facilitou (o instrumento das redes sociais, possivelmente) e como enfrenta-la (de que forma recuperar a convicção de que temos referentes comuns a partilhar, que assim permitam a volta do diálogo).

Já a segunda mesa focará tema pouco discutido, que é o seguinte: ao que parece, o avanço tecnológico ao longo da História é mais rápido do que o aprendizado, pela psique humana, de como lidar com essas conquistas. Os casos mais recentes são o da energia nuclear, que faz sua entrada triunfal no mundo sob a forma da bomba atômica, com a morte de mais de 200 mil pessoas em agosto de 1945, e ainda paira sob forma de ameaça à vida humana; e o da internet e das redes sociais, que permitiriam uma proximidade dos seres humanos sem precedente, mas têm sido usadas para o ódio e o crime, mais do que para a amizade e o amor.

A terceira mesa, por sua vez, abordará a questão da inclusão social, quer a das minorias, quer a da maioria silenciada (para usar o termo de Fernando Morais, nos anos 1980) e pobre, discutindo a eficácia das políticas públicas nesta direção, bem como as lições que delas se podem tomar para conseguir o ideal de igualdade e equidade no trato dos diferentes.

Finalmente, a quarta mesa terá por tema uma utopia possível. Os avanços tecnológicos permitem um nível de vida melhor do que jamais existiu, o fim da fome e da miséria, mais que isso, uma vida próspera para todos. Temos hoje ou teremos em breve os meios para uma real igualdade entre os seres humanos, somada a uma liberação de tempo livre que pode viabilizar o sonho do ócio criativo, apresentado por Domenico De Masi nos anos 1980. Para tanto, é preciso saber conectar conhecimentos de distintas áreas, de modo que as possibilidades técnicas lembradas na 2ª mesa, bem como a inclusão social defendida na 3ª, se unam em torno de uma proposta para a humanidade nova e enriquecedora.

Programação


9h/11h30 – MR 1 – Redes sociais, cultura de ódio, polarização: o tecido social sob ameaça: Wilson Gomes (UFBA), Marilene Correa (UFAM).

(i) Quais as razões sociais e econômicas que levaram a uma polarização extrema em nossa sociedade?

(ii) Qual o papel da Internet e das redes sociais nesse fenômeno?

(iii) Como (re)construir laços sociais numa sociedade polarizada?

11h30-13h – MR 2 – A cabeça está atrasada em relação à tecnologia? Renato Janine Ribeiro (USP/SBPC), Christian Dunker (USP), Tatiana Roque (UFRJ).

Ao longo da História, nota-se que muitas invenções aparecem, que podem ser positivas para a humanidade, mas cujos efeitos nocivos são os primeiros a aparecer. Isso vale para os armamentos, culminando na bomba atômica, que continua sendo capaz de pôr fim à vida humana. Vale também para a Internet, com o uso pelo ódio daquilo que poderia servir à emancipação e cooperação entre os humanos. Como reverter isso? Como reduzir o ódio nas cabeças?

13h-14h – Almoço

14h-15h30 – MR 3 – Pesquisas científicas e sua contribuição para a inclusão social. Coordenação de Fernanda Sobral (UnB/SBPC). Palestrantes: Irlys Barreira da UFCE , Anete Ivo da UFBA  e Edna Castro da UFPA

(a) De que maneira podemos promover maior inclusão social em nosso País?

(b) De que modo as ciências do sociais integradas às demais, podem contribuir para projetos efetivos neste rumo?

16h-18h30 – MR 4 – Uma utopia com base científica, para a humanidade e o planeta. Coordenação Renato Janine Ribeiro. Participantes: Ricardo Abramovay, Marina Silva, João Cezar de Castro Rocha (UERJ).

Precisamos articular a solução dos seguintes problemas:

(1) Reduzir o impacto negativo da ação humana sobre a natureza, inclusive baixando o consumismo e produzindo bens de consumo sustentáveis; (2) como lidar com os empregos que não contribuem para o aprimoramento e crescimento pessoal? (3) Aproveitar os avanços científicos e tecnológicos para reduzir o tempo gasto em atividades monótonas e produtoras de infelicidade, ao mesmo tempo que se valoriza o lazer criativo; (4) implantar uma cultura da paz, fortalecendo a cooperação e reduzindo a parte do confronto nas relações humanas; (5) fortalecer o espírito público e a busca do bem comum; (6) resolver a equação que, somando vidas mais longas e queda na natalidade, permite que menos pessoas produzam para muito mais gente.

Em suma, fazer que os ganhos de produtividade, decorrentes da automação ( = máquinas) e da informática, melhorem a vida humana, aumentando a expectativa de vida mas, também, promovendo um lazer criativo e feliz.

*Renato Janine Ribeiro é professor titular aposentado de filosofia na USP. É o atual presidente da SBPC. Autor, entre outros livros, de Maquiavel, a democracia e o Brasil (Estação Liberdade). https://amzn.to/3L9TFiK

*Fernanda Antonia Sobral é professora aposentada do Departamento de Sociologia da UnB.Atualmente é vice-presidente da SBPC.

O evento on-line será realizado nesta terça-feira, 26 de março.

Será transmitido pelo canal Youtube da SBPC: www.youtube.com/canalsbpc


A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Luiz Werneck Vianna Remy José Fontana Tales Ab'Sáber Jean Pierre Chauvin Antonio Martins Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Paulo Capel Narvai José Geraldo Couto Henri Acselrad Andrés del Río Gerson Almeida Fernando Nogueira da Costa Eleutério F. S. Prado Leonardo Sacramento Kátia Gerab Baggio Eugênio Bucci José Luís Fiori Rubens Pinto Lyra Paulo Nogueira Batista Jr Flávio Aguiar Marilia Pacheco Fiorillo Igor Felippe Santos Francisco de Oliveira Barros Júnior Luiz Bernardo Pericás Sandra Bitencourt José Machado Moita Neto Érico Andrade Chico Alencar Ricardo Abramovay Leda Maria Paulani Alexandre de Freitas Barbosa Mário Maestri Alexandre de Lima Castro Tranjan João Carlos Loebens Ricardo Fabbrini Gabriel Cohn Afrânio Catani José Dirceu José Costa Júnior Leonardo Boff Paulo Sérgio Pinheiro Rodrigo de Faria Bruno Fabricio Alcebino da Silva Annateresa Fabris Marjorie C. Marona Valerio Arcary Caio Bugiato Mariarosaria Fabris Leonardo Avritzer Valerio Arcary Michel Goulart da Silva Fábio Konder Comparato Matheus Silveira de Souza Eduardo Borges Carlos Tautz Salem Nasser Armando Boito Gilberto Lopes Luiz Carlos Bresser-Pereira André Márcio Neves Soares Henry Burnett Marcos Silva João Sette Whitaker Ferreira Priscila Figueiredo Boaventura de Sousa Santos Manuel Domingos Neto Eleonora Albano Benicio Viero Schmidt Otaviano Helene Ari Marcelo Solon Fernão Pessoa Ramos Ronald León Núñez Rafael R. Ioris Jorge Branco Tarso Genro Chico Whitaker Samuel Kilsztajn Michael Roberts Everaldo de Oliveira Andrade Osvaldo Coggiola Lincoln Secco Luiz Renato Martins Dennis Oliveira Walnice Nogueira Galvão Manchetômetro José Raimundo Trindade Marcelo Módolo Eliziário Andrade Alexandre Aragão de Albuquerque Ricardo Musse Claudio Katz João Feres Júnior João Lanari Bo Milton Pinheiro Ricardo Antunes Elias Jabbour Anselm Jappe Bento Prado Jr. Luiz Eduardo Soares Thomas Piketty Antonino Infranca Plínio de Arruda Sampaio Jr. Lorenzo Vitral Alysson Leandro Mascaro Sergio Amadeu da Silveira Jean Marc Von Der Weid Celso Frederico José Micaelson Lacerda Morais Marilena Chauí Luiz Roberto Alves Slavoj Žižek Heraldo Campos Paulo Martins Vanderlei Tenório Ronaldo Tadeu de Souza Eugênio Trivinho Liszt Vieira Carla Teixeira Daniel Costa Gilberto Maringoni Marcelo Guimarães Lima Lucas Fiaschetti Estevez Ladislau Dowbor Paulo Fernandes Silveira Luiz Marques João Adolfo Hansen Andrew Korybko Bernardo Ricupero Michael Löwy Renato Dagnino Ronald Rocha André Singer Francisco Fernandes Ladeira Tadeu Valadares Jorge Luiz Souto Maior Marcos Aurélio da Silva Daniel Brazil Antônio Sales Rios Neto João Paulo Ayub Fonseca Juarez Guimarães Daniel Afonso da Silva Flávio R. Kothe Berenice Bento Yuri Martins-Fontes Luis Felipe Miguel Maria Rita Kehl Luís Fernando Vitagliano Denilson Cordeiro Francisco Pereira de Farias Luciano Nascimento Bruno Machado Celso Favaretto Marcus Ianoni Vinício Carrilho Martinez João Carlos Salles Dênis de Moraes Julian Rodrigues Airton Paschoa Atilio A. Boron Vladimir Safatle

NOVAS PUBLICAÇÕES