Crises capitalistas em alta frequência

Imagem: Jeffry Surianto
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Por BRUNO MACHADO*

Mudanças bruscas nos rumos da política capitalista só ocorrem em momentos de crise social e econômica

Os ciclos econômicos da economia capitalista preveem períodos de êxtase e épocas de falências, dessa forma, não deveria ser surpresa que crises econômicas ocorram recorrentemente no capitalismo global. O que não é normal dentro desses ciclos econômicos é a frequência cada vez maior das crises geradas pelo setor financeiro do capitalismo, descoladas da produção e distribuição de produtos. Nesse início do século XXI, crises geradas pela financeirização da economia têm sido cada vez mais frequentes e têm causado uma instabilidade generalizada no capitalismo mundial.

Uma das principais causas do aumento da frequência das crises financeiras no capitalismo atual é o avanço da inovação financeira no mercado financeiro, buscando maiores retornos no curto prazo. Outra causa, é o aumento do peso do mercado financeiro na economia global. A reordenação das grandes empresas visando maior distribuição de dividendos causa uma menor taxa de investimento na produção e reduz a produtividade do trabalho potencial da economia. Com uma produtividade que não cresce constantemente em um ritmo moderado, o capitalismo se vê em repetidas crises de baixo crescimento.

A imprevisibilidade e o peso do mercado financeiro sobre a economia reduzam investimento e levam a queda do crescimento econômico. Além disso, as altas artificiais das commodities, via especulação nos preços dos derivativos, e altas dos aluguéis, devido as bolhas imobiliárias causadas também pelo mercado financeiro, geram uma inflação financeira, descolada da demanda agregado da economia e do câmbio.

Para compensar o freio causado pela financeirização na produção, as economias centrais ampliam sua busca por territórios a serem explorados, seja via exploração de novos campos de recursos naturais, seja pela conquista de novos mercados consumidores locais. Já na periferia do sistema, a financeirização exige uma maior superexploracao do trabalho para manter um nível crescente de aumento dos retornos sobre os investimentos das empresas capitalistas.

O avanço do imperialismo no centro e da superexploracao do trabalho na periferia causa, tendencialmente, maiores tensões diplomáticas entre os países centrais, aumentando a frequência de disputas econômicas e, em última instância, até militares. Na periferia, a crise social causada pela crise econômica constante leva a uma radicalização política, que dentro da ideologia dominante do capitalismo, acaba levando a ascensão de governos neofascistas nesses países periféricos, principalmente na América Latina e na Ásia.

Dessa maneira, a inovação financeira e o aumento do peso do mercado financeiro na economia real conduzem a um estado global de mais conflitos entre os países centrais e de governos mais exploratórios e violentos nas periferias. Somente a retomada da lógica da economia produtiva sobre a economia financista e o avanço da consciência de classe entre os trabalhadores poderá frear essa elevação de frequência de crises financeiras, ocorrência de guerras e ascensão de governos neofascistas.

A tarefa de imediato da esquerda é combater a sanha do mercado financeiro, contrapondo os modelos de desenvolvimento industrial produtivo e o modelo neoliberal financista. É evidente que tal contradição não existe nas elites nacionais, o que joga nos partidos de massa de esquerda a tarefa de fazer tal enfrentamento. Entretanto, tais mudanças bruscas nos rumos da política capitalista só ocorrem em momentos de crise social e econômica. E de acordo com a atual ideologia política predominante no Brasil, a probabilidade de um governo de esquerda radical chegar ao poder é muito menor do que a eleição de outro governo neofascista.

*Bruno Machado é engenheiro.


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