Por HERALDO CAMPOS*
O atual governo federal, militarizado, é um governo destruidor, demolidor, como poucos existiram na nossa frágil história democrática
Quando se está procurando uma casa para morar, ou um apartamento num prédio, a primeira coisa que chama atenção, sem dúvida, é a sua fachada, a sua aparência externa. Essa primeira impressão, do lado de fora da rua, pode dar uma indicação do que se pode esperar no seu interior.
Se a fachada está degradada, imagina-se que a sua parte interna, ou seja, as unidades que integram o mesmo prédio sigam o mesmo padrão de degradação. Espera-se, assim, que os vários cômodos de um apartamento, por exemplo, como sala, quartos, cozinha e banheiros se apresentem bem detonados, pela má conservação ou pelo seu mau uso. Mas, convenhamos, nem sempre é assim. Um edifício de aparência decadente, no litoral, pode até ter apartamentos aconchegantes, um bom calçadão nas cercanias e um farol para iluminar as belas noites na beira-mar.
No lado oposto, uma chácara em beira de estrada, que pode não ser lá essas coisas por causa de tráfego intenso e pesado na sua frente, pode ter a sua compensação se tiver umas boas árvores frutíferas e um bom campinho de terra para jogar um futebolzinho no final da tarde.
Num cenário tipicamente urbano, muitas vezes são as cercanias de uma moradia, seja ela uma casa ou um apartamento, que acabam dando aquele toque especial ao lugar onde se escolheu para viver. Morar nas proximidades de um parque para se realizar umas boas caminhadas pela manhã ou ao final de um dia de trabalho é, sem dúvida, um desses momentos aprazíveis de qualquer cidade do interior ou das capitais.
Nesse cenário, se por ventura, a fachada de uma casa ou de um prédio possa ser atraente, e as moradias apresentem boas distribuições internas, o barulho provocado pelos vizinhos pode ser um componente insuportável. Talvez uma paisagem panorâmica de uma serra ou de um mar distante possa contrabalançar os dissabores e as noites mal dormidas por causa dos vizinhos barulhentos, principalmente nesse período de quarentena da pandemia do coronavírus. Em outras palavras, como dizia a minha querida tia Suzette, as vezes as aparências ou as fachadas enganam.
Se a internação hospitalar do Trump, por causa de infecção do coronavírus e a interferência na sua reeleição em 2020 e a internação hospitalar do Bolsonaro, por causa de uma facada e a sua eleição em 2018, tem alguma possível semelhança, somente o tempo vai nos dizer. Mas, cá com os meus botões, que guardam alguma semelhança, e podem não ser somente possíveis fake news de momento, parece muito bem possível.
Como é possível, também, que esse governo federal, que prega uma reforma do estado, pode estar pregando, mesmo, de fato, é uma reforma de araque, uma reforma de fachada, tudo para chegar, um dia, no que disse, claramente, o militar-presidente em chefe, que é a destruição de tudo o que está aí.
E, assim, não vamos nos iludir porque parece que ele vem cumprindo a palavra. Esse governo federal, militarizado, é um governo destruidor, demolidor, como poucos existiram na nossa frágil história democrática. O que esse governo prega, e tenta executar sem o menor pudor, parece que vem sendo materializado pelos 57 milhões de votos recebidos num projeto da obra do mal e em velocidade galopante.
Mas, então, o que fazer? Como sair dessa? É como uma moradia deteriorada pelo tempo e pelo mau uso, em péssimo estado de conservação. É necessária uma reforma interna e estrutural profunda, para valer, para que alguma coisa aconteça junto da maioria da população que não colocou esse governo no poder. A fachada até hoje, aparentemente conservada pela classe dominante, uma hora tem que começar a ruir e a revelar, realmente, o que existe por dentro dessa podridão.
Assim, como por enquanto aguardamos, “calmamente”, a manifestação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre a cassação da chapa militar-presidencial eleita em 2018 de maneira suspeitíssima, a pesquisa pessoal sobre os candidatos para prefeitos e para vereadores nas eleições de 2020, pode ser um caminho a ser percorrido para não elegermos pessoas do “tipo Bolsonaro”, totalmente demolidoras e destruidoras como nossos futuros representantes.
Por isso, para encerrar, “Fica Carol Solberg!” e “Fora Bolsonaro!”.
*Heraldo Campos é doutor em Ciências pelo Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP).