A cena brasileira – XXVII

Imagem: Willian Eickler
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por BENÍCIO VIERO SCHMIDT*

Comentário sobre acontecimentos recentes

Na semana do professor, é anunciado o corte de R$ 600 milhões do Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovação. Seu condutor, o astronauta vendedor de travesseiros em seu site particular, manifesta “surpresa”. O edital universal do CNPq está ameaçado, bem como bolsas de pesquisa, de pós-graduação e outras despesas de laboratórios. Um desastre.

A próxima semana será bem mais movimentada do que esta última, ao menos em Brasília.

No Senado Federal será apresentado o relatório final da CPI-Covid (19), com votação no dia seguinte (20), contando com a presença de familiares de vítimas do todo o país. Serão destaques as pessoas do norte do Brasil, local de experimentos com tratamento ineficaz (kit-COVID) , combinados com falta deliberada de oxigênio, e com, ao menos, 200 vítimas no Amazonas. Operação com forte apelo emocional, certamente será confrontada com o negacionismo das tropas leais ao Executivo, tentando escapar publicamente das acusações de crimes em 11 incidências, incluindo acusações de charlatanismo e crimes contra a humanidade por parte do presidente Bolsonaro. Os filhos do presidente também serão acusados por fake news em relação à pandemia. O que pode causar comoção pública.

Também a votação da lei do ICMS, estabelecendo um valor fixo aos litros de combustível vai ao Senado, depois de aprovada pela Câmara Federal. Os protestos dos governadores e dos prefeitos podem levar a matéria ao STF, posteriormente. Há um prejuízo estimado aos estados de cerca de R$ 84 bilhões e cerca de R$ 6 bilhões aos municípios. A aprovação da Câmara, que exigiria regulamentação posterior da matéria, não garante sua aprovação no Senado; além de ter pouco impacto do que seriam os preços dos combustíveis no mercado. Em função da alta dos preços, o Executivo tenta jogar a responsabilidade sobre os governadores, de modo especial; indo até a declarações improvisadas sobre a possível privatização da Petrobras. Aliás, resta pouco prazo, dado pelo CADE, para que a Petrobras venda 8 de suas anunciadas refinarias (50%) da capacidade nacional de refino, Os interessados têm desistido, exatamente pela instabilidade governamental e pelo erratismo das medidas anunciadas para controle de preços dos combustíveis.

Na Câmara será considerado e votado um tema sensível às relações entre os poderes da república: a PEC (5/2021) que altera a composição do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Será votada na terça-feira (19), com chances de aprovação com prováveis sugestões dos procuradores, ainda exercendo muitos protestos pelo avanço do Legislativo sobre suas prerrogativas. Juntamente com a Lei da Improbidade, esta PEC sinaliza uma tentativa de maior controle do Legislativo sobre os demais poderes.

A Conferência sobre o clima (Glasgow, 31 outubro-12 novembro) segue recebendo sugestões e providências quanto à melhoria dos índices de aquecimento global. O Brasil, por meio do Ministério do Meio Ambiente, apresentará um mirabolante plano que dependerá da boa vontade dos doadores internacionais; que, aliás, têm demonstrado desprezo pelos anúncios brasileiros, como atesta o périplo de autoridades norte-americanas que viajam a América do Sul sem visitar ou dialogar com as autoridades brasileiras. Um sinal de isolamento e desgaste internacional.

A questão energética agrava-se com a inflação dos combustíveis e a crise hídrica. Afora as escaramuças ao redor da Petrobras, o governo indica que vai encaminhar ao BNDES um pedido de recursos (R$ 20 bilhões) para a construção de termelétricas movidas a carvão. O primeiro sintoma é negação do Banco, uma vez que prioriza, desde 2017, a construção de usinas de energia limpa (solar e eólica). Mais um conflito e uma medida contra as tendências mundiais.

No panorama eleitoral, além da operação de consolidação da União Brasil (PSL + DEM) como o maior partido da direita no Congresso- por sua vez caracterizado por extremo conservadorismo- destacam-se as diatribes entre Ciro Gomes, Lula e Dilma sobre eventos recentes e sobre a natureza das alianças possíveis para as eleições de 2022. Ciro Gomes faz de Lula e do PT sues principais inimigos, em busca do apoio conservador. Veremos.

*Benicio Viero Schmidt é professor aposentado de sociologia na UnB e consultor da Empower Consult. Autor, entre outros livros, de O Estado e a política urbana no Brasil (LP&M).

 

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Salem Nasser Chico Whitaker Andrew Korybko João Carlos Salles João Carlos Loebens Mário Maestri Sandra Bitencourt Eliziário Andrade Manuel Domingos Neto João Adolfo Hansen Anselm Jappe João Paulo Ayub Fonseca Eugênio Bucci Maria Rita Kehl Thomas Piketty Ricardo Abramovay José Costa Júnior Alexandre de Freitas Barbosa José Raimundo Trindade Heraldo Campos Elias Jabbour Bento Prado Jr. Antonino Infranca Gabriel Cohn Julian Rodrigues Marilia Pacheco Fiorillo Lincoln Secco Paulo Capel Narvai José Geraldo Couto Antônio Sales Rios Neto Ronald León Núñez Benicio Viero Schmidt Marcelo Módolo André Márcio Neves Soares Carla Teixeira Andrés del Río Rodrigo de Faria Everaldo de Oliveira Andrade Gilberto Lopes Paulo Nogueira Batista Jr José Micaelson Lacerda Morais Antonio Martins Bernardo Ricupero Annateresa Fabris Marcus Ianoni Fábio Konder Comparato Michael Löwy Slavoj Žižek Vanderlei Tenório Carlos Tautz Igor Felippe Santos Dênis de Moraes Eduardo Borges Celso Frederico Luiz Renato Martins Caio Bugiato Fernão Pessoa Ramos Denilson Cordeiro Chico Alencar Lucas Fiaschetti Estevez Flávio R. Kothe Luis Felipe Miguel Luciano Nascimento Remy José Fontana Ricardo Fabbrini Leonardo Sacramento Francisco de Oliveira Barros Júnior José Machado Moita Neto Marilena Chauí Daniel Costa João Feres Júnior João Sette Whitaker Ferreira Marjorie C. Marona Matheus Silveira de Souza Leda Maria Paulani Paulo Martins Osvaldo Coggiola Eugênio Trivinho Érico Andrade Berenice Bento Gerson Almeida Airton Paschoa Luiz Carlos Bresser-Pereira Luiz Bernardo Pericás Jorge Luiz Souto Maior Ricardo Antunes Manchetômetro André Singer Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Paulo Sérgio Pinheiro Jean Marc Von Der Weid Michael Roberts Atilio A. Boron Otaviano Helene Ricardo Musse Luiz Marques Tarso Genro Ari Marcelo Solon Afrânio Catani Tales Ab'Sáber Michel Goulart da Silva Marcos Silva Jorge Branco Daniel Afonso da Silva Ronald Rocha Luiz Eduardo Soares Vinício Carrilho Martinez Renato Dagnino Luís Fernando Vitagliano Leonardo Boff Marcos Aurélio da Silva Bruno Machado Francisco Fernandes Ladeira Boaventura de Sousa Santos Leonardo Avritzer Eleutério F. S. Prado Valerio Arcary Celso Favaretto Tadeu Valadares Jean Pierre Chauvin Alexandre Aragão de Albuquerque Fernando Nogueira da Costa João Lanari Bo Juarez Guimarães Plínio de Arruda Sampaio Jr. Paulo Fernandes Silveira Ladislau Dowbor Rubens Pinto Lyra Ronaldo Tadeu de Souza José Luís Fiori Kátia Gerab Baggio Samuel Kilsztajn Marcelo Guimarães Lima Alexandre Juliete Rosa Flávio Aguiar Sergio Amadeu da Silveira Eleonora Albano Henry Burnett Luiz Roberto Alves Yuri Martins-Fontes Milton Pinheiro Daniel Brazil Alysson Leandro Mascaro Rafael R. Ioris Vladimir Safatle Armando Boito Walnice Nogueira Galvão Gilberto Maringoni Bruno Fabricio Alcebino da Silva Luiz Werneck Vianna Henri Acselrad José Dirceu Claudio Katz Liszt Vieira Dennis Oliveira Lorenzo Vitral Francisco Pereira de Farias Mariarosaria Fabris Priscila Figueiredo Alexandre de Lima Castro Tranjan

NOVAS PUBLICAÇÕES